Grampos da PF mostram estratégia da máfia dos jogos

No escritório, em casa, em restaurantes sofisticados ou até mesmo nas ensolaradas praias da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, os juízes, lobistas, advogados e representantes da máfia dos jogos de azar costumavam se reunir para combinar esquemas de venda e compra de decisões judiciais. Para a turma, não tinha trânsito difícil nem tempo ruim. Em um dos vários diálogos obtidos pela Polícia Federal (PF) por meio de autorização judicial, e que fazem parte do inquérito que deu origem à Operação Furação, os encontros em lugares inusitados para a discussão "dos negócios" da do grupo e a linguagem utilizada chamam a atenção.

Em uma das conversas grampeadas pela PF, um homem identificado como Júnior conversa com Jaime Garcia Dias, um dos representantes das empresas de bingo. O diálogo começa com Jaime solicitando um encontro com Junior, que pergunta se tratava de "Notícia boa?" ao qual Jaime responde. "Graças a Deus. A gente chove né, a chuva." Junior confirma: "Com certeza né irmão, tem que chover um pouquinho no nosso jardim." Outro trecho do inquérito ao qual o Estado teve acesso e que chama atenção é quando Jaime e Junior conversam sobre uma decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Paulo Medina.

Junior diz a Jaime que precisa de uma cópia da "decisão, da reclamation, da decisão do Medina". Jaime informa "que choveu e tudo" e Junior comemora: "Que Bom! P. o mato tava seco, né!" Em um dos 12 volumes do inquérito de 2.878 páginas a PF e o Ministério Público Federal (MPF) relatam diversos grampos e várias cenas. Em uma das descritas, o desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, José Eduardo Carreira Alvim chamado de "chefe" está na praia com Jaime. Jaime está prestes a ser pai de Manuela e diz que "está construindo uma casa para ver se ganha algum dinheiro" e Junior brinca que é para "garantir o leite da Manuela". Eles conversam de negócios e até combinam encontro no Casa Shopping, também no Rio.

Desconfiados de grampo telefônico, já depois de várias interceptações da polícia, advogados, empresários e juízes discutem "os negócios" do grupo em outros lugares considerados "points" de famosos no Rio como a churrascaria Porcão e o restaurante Fratello, também da Barra. Os grampos também revelam os hábitos da banda podre da PF. Como se estivessem em um filme, os policiais marcam encontros na praia e em postos de gasolina para planejar a retirada dos autos de um pen drive (armazenador de dados) que confirma a ligação deles com os empresários da máfia dos jogos de azar. O pen drive foi aprendido durante a prisão de um homem identificado como Rogério Andrade e conteria nome de policiais "supostamente envolvidos com a contravenção", diz o trecho do inquérito que corre em segredo de Justiça.

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