Governo se mobiliza para tentar atrasar instalação da CPI

Depois do fracasso da operação para barrar a Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) dos Correios, o governo agora está disposto a usar todas as armas
disponíveis para retardar as investigações. Os aliados do Palácio do Planalto
deverão boicotar as reuniões, atrasando a instalação da CPI. Ao mesmo tempo,
tentarão convencer a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de que o texto
do requerimento da CPI contraria as regras, o que impediria sua criação. Se tudo
isso der errado, a idéia é garantir o controle dos trabalhos com o
estabelecimento de uma maioria confiável na CPI e a indicação de aliados fiéis
nos postos de comando. "Vamos à guerra com todos os seus horrores", disse o
líder do PP na Câmara, José Janene (PR). "Que vai ser ruim para o País,
vai."

Os petistas alegam que a abertura da CPI poderá ser rejeitada pela
Comissão de Constituição e Justiça porque o requerimento não restringe as
apurações a um fato determinado, como exige a Constituição. "O pedido não
identifica um objeto de investigação", disse o deputado Sigmaringa Seixas
(PT-DF). O requerimento fala em apuração de "atos delituosos praticados por
agentes públicos nos Correios", delimitação que o parlamentar considera muito
genérica. Além disso, argumenta Sigmaringa, o texto cita supostas
irregularidades em outras empresas, como o Instituto de Resseguros do Brasil
(IRB). Os oposicionistas, porém, avaliam que o texto é suficientemente preciso e
enxergam no recurso à Comissão de Constituição de Justiça apenas uma manobra
para retardar os trabalhos. "Se essa CPI não fosse aberta por falta de fato
determinado, nenhuma outra poderia ter funcionado, nem a do Proer, nem a do
Banestado, nem a da pirataria", rebate o líder do PSDB na Câmara, Alberto
Goldman (SP).

Até que a questão seja esclarecida, os governistas tentarão
impedir a eleição do presidente da CPI. A dúvida é quanto à capacidade do
governo de resistir à pressão da opinião pública. "Quanto mais o governo adiar o
início dos trabalhos mais sua imagem ficará desgastada", aposta o líder do PFL
na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Caso seja impossível impedir o início das
investigações parlamentares, os aliados de Lula vão brigar então para indicar o
relator da CPI, cargo tido como o mais estratégico em qualquer comissão. O nome
mais falado até agora é o do Professor Luizinho (PT-SP), conhecido pelo vigor
com que trabalha pelos interesses do Planalto.

"Não descartamos nenhuma
manobra regimental para ficar com a relatoria", avisou o líder do governo na
Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Num encontro marcado para terça-feira (31),
os líderes dos partidos governistas vão discutir que nomes são os mais adequados
para compor a CPI. "O critério tem de ser o da experiência política, do
conhecimento de questões regimentais e da coragem para defender o governo",
completou Chinaglia.

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