Governo quer mudar CPI dos Bingos

Depois de passar um período alheio ao trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o governo montou uma estratégia para tentar mudar os rumos da comissão. A base governista decidiu alterar até mesmo a composição da CPI para acompanhar, mais atentamente, as iniciativas da comissão, definida por aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "CPI contra o PT".

Dominada por oposicionistas, a CPI irritou integrantes da administração federal ao tomar, há 15 dias, o depoimento do chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Carvalho foi ouvido para falar de um assunto tabu no partido, a morte do ex-prefeito de Santo André, no Grande ABC (SP), Celso Daniel.

De lá para cá, o Poder Executivo deu início a uma operação para evitar mais dores de cabeça. Não sem tempo. Integrantes da CPI defendem ações com potencial de agravar ainda mais a crise, como uma acareação entre Carvalho e os irmãos de Daniel (à comissão o médico oftalmologista João Francisco Daniel disse que o chefe do Gabinete Pessoal revelou que recursos arrecadados por pessoas ligadas a Celso Daniel de empresas na cidade eram entregues à legenda; Carvalho nega a informação.

Por decisão da liderança do PT, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi escolhido para ocupar uma das vagas de titular da comissão parlamentar no lugar do senador Sibá Machado (PT-AC), que tinha dificuldades para acompanhar mais de perto os trabalhos da CPI dos Bingos por causa da participação em outras duas comissões, a do Mensalão e a dos Correios. Outra mudança foi a escolha da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para a vaga de suplente.

Ideli tem freqüentado reuniões da CPI dos Bingos desde o depoimento de Carvalho à comissão. Na semana passada, foi indicada, oficialmente, para a vaga de suplente da CPI. "Estamos tentando mudar a correlação de forças na CPI porque chegamos à conclusão de que a comissão se transformou numa arma política contra o PT", afirmou a senadora.

"O caso Santo André não tem conexão com o esquema dos bingos", disse Ideli. Para ela, a inclusão do caso entre os fatos a serem investigados é um exemplo clássico de que a oposição quer mesmo atingir a sigla e a gestão Lula.

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), defendeu as investigações da comissão. "Tudo aquilo que vem sendo feito tem uma justificativa. Qualquer CPI tem de fazer concessões e desviar um pouco o roteiro natural das investigações para chegar ao seu objetivo. Nós sabemos que o objetivo é apurar as irregularidades ligadas às casas de jogos, mas nós sabemos também que há conexões entre a máfia do lixo, dos transportes e dos bingos", disse Alves.

Segundo ele, a convocação de Carvalho para falar do caso Santo André foi defendida pelo comando da CPI porque há indícios de que, por trás do assassinato de Celso Daniel, estejam esquemas ilegais comandados por empresas de transportes, dos bingos e do lixo.

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