Governo perde batalha e CPI começa hoje

O governo perdeu a disputa política no Congresso pela definição do instrumento
de investigação das denúncias de corrupção nos Correios e do suborno de
parlamentares para integrarem a sua base de apoio. A Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito requerida em maio deverá ser instalada às 16 horas de hoje, salvo
se os representantes da base aliada não comparecerem à reunião convocada pelo
presidente do Senado. Na falta do quorum regimental (presença mínima de 17 dos
32 titulares da CPI), a comissão não poderá eleger seu presidente, o vice e o
relator dos trabalhos.

A indicação dos deputados e senadores para compor
a CPI, ontem à noite, sugere, contudo, que essa batalha – a da briga pela
instalação da CPI – terminou. A insistência na estratégia de obstrução seria
inútil, num quadro em que o governo já perdeu também a batalha da opinião
pública, que, como ressaltou o cientista político Fábio Wanderley Reis, "tende a
dar crédito às denúncias".

Os governistas fracassaram igualmente na
tentativa de delimitar e controlar o alcance da investigação. Os integrantes de
inquéritos parlamentares podem não somente quebrar sigilos fiscais, telefônicos
e bancários, com a velocidade que o Judiciário não tem, mas também estender a
investigação a fatos conectados com o objeto determinado pelo requerimento que o
criou. Existe farta jurisprudência do STF a esse respeito.

As denúncias a
serem apuradas precisam evidentemente ser comprovadas. O que há, por enquanto, é
a suspeita de que instalou-se no governo "um tipo de corrupção sistêmica
organizado em todos os escalões", segundo explica o senador Tasso Jereissati. No
caso dos Correios, fala por si só o vídeo de corrupção explícita em que um
funcionário aparece embolsando a quantia do suborno. Resta descobrir se é
verdadeiro o sistema que ele descreve, de roubo em várias empresas
estatais.

Já no caso do "mensalão" (pagamentos pela tesouraria do PT a
parlamentares), denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), a denúncia
carece de comprovação. Além disso, os governistas não aceitam que essa denúncia
seja investigada por esta CPI. A questão será o primeiro ponto do confronto com
a oposição. Daí a importância nessa disputa da escolha dos primeiros depoentes.
Jefferson deverá estar entre eles. Caso ele faça o que tem prometido e repita
com mais detalhes e provas a entrevista que ampliou a crise política, os líderes
oposicionistas entendem que será possível conectar o "mensalão" ao fato
determinado motivador da investigação.

Os fatos registrados ontem indicam
que a crise política encontrou o leito por onde correrá. As decisões no
Congresso e a entrevista do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, deram um ar de
"normalidade" ao ambiente político. A sensação de normalidade não deve ser
entendida como fim do nervosismo. Ao contrário, a sensação dos últimos dois dias
é a da calma que se verifica no centro dos furacões. No centro, tudo parece
estável e sem motivo para sobressaltos. Mas na periferia a tormenta mostra sua
fúria.

Os mercados devem se preparar para dias de muita expectativa, em
que outra vez serão vistos, ao vivo na TV, interrogatórios que poderão lançar o
País em um longo período de instabilidade política. E muita turbulência e danos
é o que promete Roberto Jefferson, mantido na presidência do PTB depois de
mostrar o que sabe, e o que tem para provar o que sabe, a seus companheiros da
Executiva Nacional do partido. O desligamento da bancada do PTB no Senado do
bloco que formava com o PT não foi um bom sinal para os governistas. As notas da
ópera que Jefferson entoou na tarde de ontem, durante aula de canto em seu
apartamento em Brasília, deram um toque irônico à calmaria que mora no olho do
furacão

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