Governo impede convocação de Meirelles pela CPI

Numa sessão tumultuada da CPI dos Correios, o governo conseguiu impedir, nesta quinta-feira, a aprovação da convocação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona.

Também foi rejeitada a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Okamatto, que é contador pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e antecedeu Delúbio na Secretaria de Finanças do PT, além de ter sido o tesoureiro da primeira campanha do petista à Presidência, em 1989.

Os integrantes da oposição na CPI queriam convocar Okamotto para que ele explicasse o pagamento do empréstimo de R$ 29,4 mil concedido pelo PT ao presidente Lula. O Palácio do Planalto se recusou a esclarecer a origem do dinheiro que quitou a dívida e, há cerca duas semanas, Okamotto declarou ter se encarregado de pagar o débito.

Para brecar a convocação do presidente do Sebrae, o governo mobilizou todos os aliados na CPI dos Correios: foram 16 votos contra a ida de Okamotto e 12 a favor. Dos governistas, apenas o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) votou contra o Planalto. "Isso é molecagem dos abafadores", reagiu a senadora Heloisa Helena (PSOL-AL).

A quebra do sigilo de Okamotto foi rejeitada por uma pequena margem de votos: 15 contra e 12 a favor. Na mesma votação, a CPI não aprovou a quebra do sigilo bancário e fiscal do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar Fernandes da Silveira. Nesta quarta-feira o advogado de ambos entregou à CPI autorização para acesso aos dados bancários pessoais de ambos no Brasil.

O governo também saiu vitorioso na derrubada do requerimento que pedia preferência para que fosse aprovada a convocação do presidente do Banco Central: foram 16 votos contra 11. "É o início da operação abafa do governo. O presidente Lula é o advogado dos corruptos neste governo", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que protagonizou um bate-boca com o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) sobre a convocação do presidente do BC.

ACM Neto argumentou que Meirelles deveria ir à CPI para explicar o motivo do Banco Central não ter identificado as movimentações financeiras internas e externas nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e não ter apurado as irregularidades que teriam sido feitas pelo Banco Rural.

"Querem atingir e derrubar o presidente Lula de qualquer jeito. Mas falta materialidade jurídica e apoio do Congresso e da sociedade para qualquer tentativa golpista dessa ordem", afirmou o deputado Maurício Rands (PT-SP).

O governo também derrubou o pedido dos parlamentares de oposição para que o ex-ministro Luiz Gushiken fosse convocado para depor na próxima quarta-feira, dia 24.

Antes de rejeitarem a convocação de Toninho da Barcelona, os integrantes da base aliada do PT conseguiram aprovar as convocação dos doleiros Haroldo Bicalho e Jader Kalid Antonio, que atuam em Minas Gerais e são suspeitos de enviar dinheiro para o exterior para o empresário Marcos Valério. Os petistas suspeitam que os dois doleiros tenham trabalhado para políticos tucanos.

A CPI dos Correios aprovou ainda a remessa de 40 requerimentos de convocação de pessoas para a CPI da Compra de Votos, entre eles o do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity.

"O fato desses requerimentos estarem indo para a CPI do Mensalão não significa que mais tarde não possamos pedir a convocação", explicou o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Na sessão desta quinta-feira, a CPI aprovou reconvocação do ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho e a convocação de Carlos Eduardo Fioravanti da Costa, ex-diretor comercial dos Correios.

Foi aprovada ainda a requisição da ata da reunião do Conselho Diretor da Telemar que avalizou as negociações relativas à compra de ações da empresa Gamecorp, que é de Fábio Luiz Lula da Silva, filho do presidente Lula. A senadora Ideli Salvati (PT-SC) impediu, no entanto, que fossem requisitadas ao Departamento de Aviação Civil (DAC) informações com as viagens ao Japão feitas por Fábio Luiz.

"Tenho a informação que o filho do presidente Lula foi quatro vezes ao Japão e quero saber se isso é verdade", alegou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), autor do requerimento.

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