Governo faz de tudo para impedir prorrogação de CPI

Dois dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantir apoio à CPI dos Correios, o governo manobrou hoje (9) para impedir a prorrogação dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito até 2006. Para tentar evitar que investigações avancem por mais seis meses, o governo contou com a ajuda do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Depois de ir ao Palácio do Planalto, Renan suspendeu a sessão do Congresso da manhã de hoje na qual seria lido requerimento assinado por 32 senadores e 205 deputados solicitando o adiamento do fim dos trabalhos da CPI para 2006. O presidente do Senado justificou sua decisão argumentando que precisaria conferir o número de assinaturas do requerimento antes de pôr o pedido em votação. Disse ainda que a CPI precisava apresentar mais resultados.

"A sociedade cobra isso (resultados). O único resultado até agora foi a apresentação do relatório com os nomes de 19 parlamentares. É preciso mais do que isso", afirmou. Renan anunciou que marcaria uma nova sessão do Congresso às 20h para votar o requerimento que propõe a prorrogação dos trabalhos da comissão por mais 120 dias. No início da noite, no entanto, o presidente do Senado comunicou aos senadores que a sessão do Congresso somente será realizada amanhã cedo. Caso o requerimento não seja aprovado pelos parlamentares, a Comissão Parlamentar de Inquérito terá de concluir as investigações até dezembro.

Na avaliação de políticos de oposição, a suspensão da reunião do Congresso fez parte de uma manobra do governo para conseguir a retirada das assinaturas de apoio ao requerimento. Segundo o líder de minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), a suposta manobra "desmascara" Lula, que no programa "Roda Viva" disse apoiar as investigações das irregularidades no seu governo.

Segundo ele, Renan derrubou a sessão do Congresso para dar prazo ao governo para convencer parlamentares da base aliada a retirarem as assinaturas do documento. "Na verdade, o encerramento da sessão é a concessão de tempo para que o governo Lula negocie a retirada de assinaturas de aliados, impedindo a continuação das investigações das irregularidades cometidas no governo e pelo PT", declarou Aleluia.

O pefelista lembrou que as CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão foram instaladas após mobilização expressiva da oposição. "Instaladas as CPIs, Lula continuou tentando de todas as formas barrar as apurações. Não raras as vezes, a bancada governista retirou-se das sessões para impedir o quorum. O clamor público fez Lula e aliados recuarem. Mas eles estão sempre atuando para barrar as investigações, como na manhã desta quarta-feira no Congresso Nacional."

O líder do governo no Senado, José Agripino (RN), disse que se governo sair ganhando dessa batalha, a oposição apresentará requerimento pedindo a instalação de uma CPI dos Correios exclusiva do Senado. A atual comissão dos Correios é mista.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) não confirmou que a estratégia era atuar para retirada das assinaturas, mas deixou clara a intenção da base governista de tentar impedir a prorrogação dos trabalhos da comissão. Para Mercadante, a CPI só deve adiar a conclusão das apurações se isso for "inevitável". Segundo ele, a CPI deveria ir até dezembro, porque o Congresso precisa retomar a agenda de votações.

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