Governo e oposição adiam escolha de embaixador em La Paz

Brasília – Em protesto contra o decreto de nacionalização do gás natural e do petróleo assinado pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, governo e oposição assumiram hoje (4) uma posição política comum: adiar por tempo indeterminado a sabatina e votação na Comissão de Relações Exteriores do Senado do nome do futuro embaixador no Brasil em La Paz, Frederico Cezar de Araújo.

Antes da votação, os senadores pretendem, no âmbito da Comissão, esclarecer todas as dúvidas sobre as medidas do governo boliviano e a situação dos investimentos da Petrobrás no país vizinho. "Vamos interromper tudo e dar espaço aos depoimentos", disse o presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Roberto Saturnino (PT-RJ), ao anunciar que, antes da votação do nome de Frederico Cezar, serão feitas, o mais rápido possível, três audiências públicas.

Além do comparecimento do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a Comissão aprovou outros requerimentos pedindo também a presença do embaixador da Bolívia no Brasil, Edgar Camacho; do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli; e do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Os dois últimos vão falar especificamente sobre a expropriação das instalações da Petrobras na Bolívia.

Com o chanceler Celso Amorim, a conversa será mais política, envolvendo as questões internacionais. "Um tema que fascina a todos", ironizou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), o relator da mensagem presidencial de indicação de Frederico Cezar. Com a certeza de que a política externa estará agora no debate eleitoral, a oposição reforçou suas críticas.

Saturnino reconheceu que o clima está "emocional" e, por isso, será importante a realização dos depoimentos. "As audiências serão esclarecedoras", disse o senador petista, avaliando que a oposição estaria tentando transformar o episódio em uma crise.

Antes de pedir a suspensão da sabatina, Virgílio conversou, na quarta-feira, com o embaixador Frederico Cezar, que concordou com suas ponderações. "É preciso dar um sinal ao governo boliviano", disse o líder. "Eu deixei claro a ele que não será uma sabatina simples, mas repleta de perguntas e respostas densas, pois o interesse nacional foi atingido."

Enquanto o nome de Cezar não é aprovado no Senado, as negociações, segundo Virgílio, continuam sendo conduzidas pelo atual embaixador em La Paz, Antonino Gonçalves. Na sessão de hoje da Comissão de Relações Exteriores, senadores de oposição voltaram a cobrar uma posição mais contundente do governo em relação à decisão de Evo Morales. Para Virgílio, a conversa entre os presidentes do Brasil e da Bolívia deveria ser reservada e não com a presença do venezuelano Hugo Chávez. "Não consigo entender isso. Não é uma conversa de companheiro nem de sindicalista. Mas de interesse do País".

Para o líder do PFL, senador José Agripino (RN), o governo brasileiro atuou no episódio "com amadorismo e despreparo". "Foi tratado de forma ideológica, emocional e incompetente. É preciso ceder espaço à racionalidade", concluiu.

A Comissão de Relações Exteriores aprovou também convites ao embaixador José Eduardo Martins Felício, subsecretário geral da América do Sul, e ao empresário Eike Batista, presidente da siderurgia EBX. O pedido foi feito pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP) que pede o comparecimento deles para falar sobre o veto do governo boliviano à implantação do empreendimento do empresário naquele país.

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