Governo deveria ter forçado bancos a reduzir taxas, acredita economista

A decisão do governo federal de reduzir a Taxa Referencial (TR) vai desestimular as pessoas a investirem na poupança, que é reajustada em 6% ao ano mais TR. Com isso, quem deve sair favorecido são os bancos, que mantêm os fundos de renda fixa como uma boa opção de investimento.

Quem investe em poupança tem um rendimento de 6% ao ano mais a TR, enquanto os fundos de renda fixa são corrigidos pela Taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), que atualmente está em 12,75% ao ano. "Em outras palavras, hoje o fundo de renda fixa tem quase empatado com a poupança", aponta o economista Miguel José Ribeiro de Oliveira. "Com a queda da Selic, iria chegar num determinado momento no segundo semestre que os fundos estariam perdendo da poupança", afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Usando como referência a Selic, os fundos de renda fixa estavam com rendimento em queda, desde que o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros. Com a nova decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), se a Selic cair a menos de 11%, a TR também cai. "O governo fez isso para segurar esses grandes investidores", afirma.

Em vez de reduzir o rendimento da poupança, Miguel Oliveira considera que o governo deveria ter forçado os bancos a reduzirem as taxas de administração cobradas para gerir os fundos. Se diminuíssem sua margem de lucro, os bancos poderiam manter o fundo mais rentável que a poupança, mesmo com queda na Selic. E o governo não teria de interferir na aplicação de 30 milhões de poupadores.

O único benefício, segundo ele, é para quem fez financiamento para compra da casa própria pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). O economista faz uma conta para demonstrar. Alguém que fez um empréstimo de R$ 100 mil, paga hoje uma prestação de R$ 1 504,93. Caso a TR seja mantida, no final de 12 meses, o mutuário teria uma prestação de R$ 1.535. Com o redutor, essa prestação cairia para R$ 1.527.

Mas o economista vê um problema a longo prazo. "Quem tem dinheiro aplicado na poupança estará recebendo menos e, naturalmente, isso pode trazer um problema adicional", afirmou Oliveira. O problema a que se refere o economista é que uma diminuição em aplicações na poupança poderia trazer uma redução nos recursos para habitação, já que os bancos são obrigados a aplicar 65% do que arrecadam com a poupança em financiamentos para habitação. "Com menos recursos na poupança, teríamos menos recursos para financiar a habitação", disse.

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