Governo argentino retoma áreas de exploração da Petrobras

Buenos Aires – A onda nacionalista patrocinada pelo presidente Néstor Kirchner no mercado argentino de petróleo não poupou a Petrobras, segunda maior petroleira no país e parceira de primeira hora da estatal Enarsa, criada por Kirchner em 2004 para preencher a lacuna deixada com a privatização da YPF. Pressionado por executivos da Enarsa, o governo retomou, no fim de 2004, duas áreas para a exploração de petróleo e gás concedidas à Petrobras dias antes.

O episódio ficou em sigilo e só veio à tona ontem (19), em reportagem do jornal portenho Clarín. Hoje, o diretor-financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, confirmou a perda das áreas, que fazem parte de uma estratégia da subsidiária local da estatal, a Petrobras Energia, para ampliar suas reservas no País, hoje focadas em campos terrestres.

As áreas foram concedidas à Petrobras um dia depois da criação da Enarsa, uma miniestatal de grandes ambições, criada com a intenção de garantir algum controle estatal sobre o abastecimento de combustíveis no mercado argentino, hoje totalmente privado.

Ao saber da concessão, a diretoria da recém-criada estatal reagiu imediatamente e protestou ao Ministro do Planejamento, Julio De Vido – homem de extrema confiança de Kirchner, com o argumento de que a empresa havia sido criada com o objetivo de partilhar a exploração energética com empresas privadas. O caso da Bacia Colorada – segundo a Enarsa – contradizia essa intenção.

Segundo o Clarín, De Vido obteve o apoio do chefe do gabinete de ministros, Alberto Fernández (o braço direito de Kirchner), que removeu a concessão à Petrobras, concedendo à Enarsa a posse total das áreas petrolíferas da Bacia Colorada.

Um ano e meio depois desse imbróglio, a Enarsa está montando um consórcio para explorar a área, em conjunto com a Repsol-YPF e a própria Petrobras. A Enarsa é a menina dos olhos de Kirchner. Conhecidos de longa data do presidente costumam afirmar que, desde sua época de governador da petroleira província de Santa Cruz, ele acompanha a questão energética com "peculiar obsessão".

O diretor-financeiro da Petrobras confirmou as negociações para a exploração conjunta da área. "Estamos acostumados a trabalhar com parceiros", disse.

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