Governo adia CPI para garantir “blindagem” de Meirelles

Para evitar a contaminação política da votação da medida provisória (MP) que garante status de ministro e foro privilegiado para o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, o governo conseguiu articular o adiamento da apresentação do relatório da CPI do Banestado no Senado. O relator da CPI do Banestado, deputado José Mentor (PT-SP), atendeu ao pedido e adiou para quinta-feira, dia 9, a entrega do relatório final da comissão sobre a evasão de divisas. Este adiamento vai empurrar para o dia 16 o encerramento dos trabalhos da comissão, inicialmente previsto para quinta-feira. Até lá, o governo espera já ter aprovado a MP.

Na avaliação do Palácio do Planalto, o teor político do relatório poderia acirrar os ânimos dos partidos de oposição já que Mentor planeja indicar que o ex-presidente do BC Gustavo Franco teve responsabilidade na evasão de divisas. O adiamento dará mais dois dias ao relator, que pretende aproveitar este prazo para aprofundar as investigações sobre os responsáveis pela evasão de R$ 30 bilhões feitas no Brasil entre 1996 e 2002.

Esta evasão teria sido praticada entre 1996 e 2002 e os brasileiros que remeteram dinheiro ilegalmente ao exterior utilizaram as agências dos bancos Real, Araucária, o antigo Banco do Estado de Minas Gerais (Benge) e o também estatal Banco do Estado do Paraná (Banestado), onde inicialmente foram detectadas as ilegalidades. Os demais membros da CPI vão poder apresentar até terça-feira da próxima semana emendas ao relatório de Mentor.

As investigações da CPI começaram em junho do ano passado e foram um dos principais motivos da crise política entre o governo do PT e os tucanos da oposição. O relator da comissão identifica no ex-presidente do BC o principal responsável pela evasão de divisas. Foi Franco quem, na ocasião, autorizou as operações de câmbio que possibilitaram a saída ilegal de dinheiro.

O presidente da comissão, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), quer incluir no relatório o resultado das investigações sobre o ex-presidente da Transbrasil, Celso Cipriani, e Paulo Maluf, além do ex-presidente do Banco do Brasil Cassio Casseb, que também aparece nas movimentações supostamente ilegais. A inclusão destes nomes como culpados não agrada ao relator, que identifica questiona mais a atuação de Gustava Franco. Mas Paes de Barros já tem até um relatório paralelo que será apresentado caso não haja acordo para a votação do relatório do deputado Mentor. Neste caso, o plenário da comissão terá que votar para escolher o relatório final.

A comissão tem em seu poder documentos sobre 450 mil operações financeiras realizadas pelos bancos brasileiros que operavam em Foz do Iguaçú. Também recebeu da Justiça dos Estados Unidos registros eletrônicos com as movimentações financeiras feitas em bancos daquele país por doleiros brasileiros, uruguaios e paraguaios, entre outros países, e até por instituições como o banco Opportunity. A CPI está encerrando seus trabalhos sem analisar boa parte da documentação que recebeu.

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