Gestão da informação. Uma nova estratégia para o advogado

A gestão advém do controle de qualidade moderno, que teve seu início na década de 30, nos Estados Unidos. Com a abertura do capitalismo e o surgimento das fábricas de produção em série, surgiu também a preocupação com o uso de ferramentas de metodologia de análise para a identificação e solução de problemas.

Mas foi a Segunda Guerra Mundial a mola propulsora do controle de qualidade. Isso porque era preciso mensurar os defeitos e as inconsistências produzidas e elidir os erros. Nessa época as tropas militares se valiam de gráficos de controle para análise de dados e sua utilização tornou viável a produção de suprimentos militares de boa qualidade, sem falhas.

No cenário atual estes mesmos objetivos permanecem. Porém, a tomada de decisões estratégicas de uma empresa se dá quase que diariamente e é necessário que se pautem em informações precisas, elaboradas no ambiente interno da corporação ou até mesmo da posição desta ocupada no mercado.

Apenas no ano que se passou 66 empresas se aproveitaram do ambiente macroeconômico favorável e experimentaram o acesso ao capital através da listagem de suas ações para negociação na Bolsa de Valores de São Paulo. Esse movimento agitou algumas tradicionais bancas de advogados do país através de trabalhos para a estruturação da operação, entre eles o de diligência legal (due diligence), que tem por objetivo tirar um ?raio x? da empresa e reproduzir a maior quantidade de informações possíveis, tais como o negócio, o mercado de atuação, os fatores de risco, suas contingências, etc., de forma a munir os potenciais investidores de informações que refletirão na decisão de investimento.

O momento vem atraindo cada vez mais escritórios de advocacia para a atuação no mercado de capitais, fusões e aquisições (M&A). Contudo, atualmente esses trabalhos estão restritos a algumas poucas bancas de advogados do eixo Rio – São Paulo, que identificaram a oportunidade e treinaram seus profissionais para executá-los. Todavia, ainda há pouquíssimos profissionais habilitados nessa área.

Infelizmente, a gestão da informação é tratada em segundo plano em nosso segmento de atuação. Grande parte dessa carência se deve ao fato de a graduação em Faculdades de Direito não ter acompanhado a evolução do mercado e ainda não possuir em sua grade curricular matérias como a gestão da informação, o gerenciamento de escritórios, o planejamento estratégico, dentre outras.

Alguns cursos de pós-graduação na área do direito recentemente inseriram matérias interdisciplinares em seus programas, até então exclusivas dos cursos de administração, contabilidade e marketing, conhecidos como MBA (Master in Business Administration), para advogados.

São em cursos que abordam a interdisciplinaridade que o advogado poderá desenvolver outras expertises além das que aprendeu na graduação. Considero que os advogados e seus escritórios de advocacia perdem muito em não conseguir enxergar novas oportunidades de negócios por não terem uma visão latu das necessidades que demandam uma empresa.

Ao deixar de lado a gestão da informação sobre os processos de seus clientes, estar-se-á oportunizando a profissionais de outros segmentos, como a de tecnologia, novas oportunidades de negócio.

Muitas empresas, devido à carência de escritórios que ofereçam esse tipo de serviço, valem-se de empresas de tecnologia da informação, que na verdade pretendem vender softwares, na esperança de ter seus problemas de gestão jurídica solucionados. Há no mercado diversas empresas de tecnologia oferecendo serviços de gestão de informação processual, sem ter sequer um advogado em seu quadro de colaboradores.

É precioso entender que a atuação do advogado não está mais adstrita ao campo contencioso. Há de se construir uma ponte que supra o abismo entre a cadeira do escritório e a planta de operação da empresa.

Com a mencionada abertura de capital de empresas em Bolsa de Valores, a disponibilidade de informações é um dos caminhos que leva à geração de valor para as companhias e seus acionistas.

Informações acerca do crescimento, rentabilidade, EBTDA, são atualmente tão importantes quanto o passivo que essas companhias geram ou assumiram, tendo em vista que as contingências na esfera trabalhista, cível e ambiental, por exemplo, podem consumir grande parte do resultado financeiro, diminuindo significativamente o retorno sobre o capital dos seus investidores.

Importante destacar ainda que a cultura das companhias brasileiras mudou porque o investidor hoje é outro. O capital estrangeiro é cada dia mais presente em terras brasileiras, o que significa que a forma da administração das companhias e o oferecimento de bens e serviços também precisam ser modificados.

Há 35 anos, somente aos engenheiros era propiciado o privilégio de analisar problemas na produção através de metodologia específica. Falo como advogada e confesso que à primeira vista é realmente difícil agregar gestão a prazos processuais e decisões proferidas por Tribunais, sobre os quais somente a lei tem poder direto.

A gestão aplicada em qualquer segmento de atuação pode efetivamente fazer milagres. Explico; o sucesso de qualquer empreendimento se deve a três fatores: planejamento, gestão e execução. Não há como atingir metas se não houver uma equipe de planejamento, bem como se este planejamento não for gerido por seus líderes e executados por seus parceiros.

Atualmente, no segmento advocatício, o que a gestão pode proporcionar é que os profissionais do direito estejam habilitados a identificar e potencializar recursos de informação de uma empresa a fim de agregar gestão aos seus serviços para a aquisição, armazenamento, análise e uso desta informação, provendo estrutura para suporte ao crescimento e desenvolvimento de uma organização inteligente, adaptada às exigências legais e novidades do segmento em que atua.

Importante esclarecer que a idéia não é agregar o trabalho de gestão à rotina de prazos e audiências, porque acredito piamente que as tarefas precisam ser meticulosamente delimitadas. Deve sim haver um gestor, um líder, que cuide exclusivamente da gestão e da estratégia do cliente. Este por sua vez, deve atuar em parceira contínua com o advogado responsável pela linha contenciosa.

A gestão, agregada a ferramentas de metodologia, cria para os profissionais do direito um novo nicho de atuação que será, com toda certeza a garantia para o sucesso das grandes, pequenas empresas e para nós advogados.

Fabiana Alonso é advogada no Escritório Delivar de Mattos.

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