Geometria favorável

O PT levantou a idéia de formação de uma frente de partidos de esquerda. A agremiação de Lula se associaria a outras legendas, objetivando dar uma base de sustentação ao governo que tenha algum conteúdo ideológico comum. Faltaria o PSOL de Heloísa Helena, que, por sua posição radical no segundo turno, já provou que não aceita reaproximações com o presidente reeleito. Um dos mais graves problemas do segundo mandato de Lula será exatamente a falta de respaldo parlamentar e partidário, pois as forças que o apóiam são minoritárias nas duas casas do Congresso. Nosso entendimento, expresso em editorial ontem publicado, é de que outra vez o presidente terá de socorrer-se de alianças sem identidade ideológica, algumas até paradoxais. E, desta vez, sem o auxílio dos mensalões.

O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, abre uma senda para expansão dessa aliança partidária, que poderá ser nem ideológica nem programática, ao dizer que ?a frente pode ter uma geometria favorável, com a participação de outros partidos que não são do campo da esquerda?. Resta saber que atrativos Lula ofereceria para formar, com essa aliança nominalmente de esquerda, mas com a presença de aliados de outros credos, uma base política e parlamentar para sua nova gestão.

Nos seus primeiros pronunciamentos, Lula descartou desde logo a preocupação de formar, de imediato, um novo ministério, lembrando que ainda tem dois meses do atual mandato e esse é o tempo para conversar. Isso não impede, entretanto, que se multipliquem as especulações que apontam para um governo de coalizão com forças diversas, excluído o PSDB. Não porque Lula não aspire o apoio do partido de Alckmin, mas em razão de que Fernando Henrique Cardoso já afastou essa hipótese, por considerá-la contrária à vontade do eleitorado. As urnas de outubro puseram o PSDB na oposição e é nela que deve ficar.

Entre as especulações sobre o futuro mandato surgem nomes como Delfim Neto para o Ministério da Agricultura e Marta Suplicy para o Ministério das Cidades. A inclusão do nome de Marta soa como quase lógica, pois dirigiu a maior cidade do país, São Paulo, e tem sido uma fiel companheira do presidente e disciplinada petista. Já o nome de Delfim, que foi ministro da ditadura militar, parece menos palatável, embora se saiba que apoiou Lula no primeiro mandato e ainda recentemente enalteceu o papel político do presidente, que não foi levado ao poder pelo PT, mas fez com que seu partido ascendesse à cúpula da administração do país. Dilma Rousseff aparece, também, como nome certo. Permaneceria na chefia da Casa Civil. Seu desempenho seria do agrado do presidente e não tem sido contestado. O mesmo pode-se dizer de Celso Amorim, que é comentado como candidato a permanecer no Ministério das Relações Exteriores. Tarso Genro, atual ministro das Relações Institucionais, terá certamente um lugar no novo governo, mercê de sua atuação quando eclodiram as sucessivas crises no PT. Ele representou o desejo de muitos petistas de renovação do partido ou, como ele próprio referiu, de ?refundação? do PT.

Muitos outros nomes surgem nos comentários e especulações que se multiplicam, mas parece certo que, num governo em que terá de solicitar o apoio de forças importantes como o PMDB, que esteve dividido na campanha, mas estará unido em torno do poder, não sobrarão tantas vagas para os ?companheiros?. Haverá muito mais de um estranho no ninho.

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