Ganhando ou perdendo?

Passado o primeiro ano do seu governo, Lula fez a reforma do ministério. Esperava-se que apenas absorvesse um ou dois peemedebistas, pagando assim o apoio obtido do ex-maior partido do Ocidente. O MDB nasceu como oposição, aliás heróica, contra a ditadura, mas ganhou uma indisfarçável vocação para o poder e não desejava ficar, por mais tempo, fora da administração do País.

Essa absorção de peemedebistas não foi fácil, pois havia disputa entre os candidatos a candidato e dúvidas no governo hospedeiro. Mas o assunto resolveu-se, entregando-se a um peemedebista até o estratégico Ministério da Previdência, depois de uma reforma do sistema e com o afastamento, daquele cargo, do petista Ricardo Berzoini.

Alguns petistas, ao longo desse primeiro ano, criaram problemas para o presidente Lula e para o governo, às vezes sem razão, mas muitas vezes tomando posições incômodas, porém corretas.

Foi o caso do ministro da Educação, Cristovam Buarque, que vinha reclamando verbas para o seu setor, sabidamente delas carente. Na sua primeira queixa, pública, recebeu um nada amigável puxão de orelhas de Lula, que disse: “Quem tem pressa, come cru”. As queixas não pararam e o presidente parece que ficou com o senador petista atravessado na garganta. Da falta de verbas, na verdade reclamavam quase todos os auxiliares de Lula. Mas, na moita, sem alardes.

Este foi para Portugal e perdeu o lugar. Foi demitido sem compensações e ainda pelo telefone. Saiu desgastado do governo e agastado com ele.

Foi substituído por Tarso Genro, um dos políticos petistas mais respeitados e ex-prefeito, bem sucedido, de Porto Alegre. O gaúcho foi bem recebido na nova pasta até pela UNE. Mas, enquanto permanece no governo, engole a situação incômoda de ter uma filha, deputada federal, que sendo da ala ortodoxa do PT, foi expulsa pelo partido e articula a criação de um novo.

O ministro Jaques Wagner, do Trabalho, assim como Ricardo Berzoini, que deixou a Previdência e foi para o Trabalho, sempre foram ministros petistas incômodos para o governo, embora amigos do peito e velhos companheiros de Lula. Wagner era useiro e vezeiro em expressar idéias contrárias aos interesses dos trabalhadores e, mais ainda, ao ideário do PT. Berzoini foi desastrado por mais de uma vez, desagradando e incomodando os aposentados e pensionistas que mandou para longas, demoradas e burocráticas filas do INSS. Teve de voltar atrás.

O governo não conseguiu se encontrar na área social, com muitos ministérios, secretarias, programas, dentre estes o ruidoso Fome Zero, que está longe de amainar o ronco das barrigas dos que não têm o suficiente para comer.

Na reforma, que deveria apenas abrir vagas para dois peemedebistas, foi criado um superministério para a área social, entregue a Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte. Dançaram os ministros que se ocupavam do problema, Benedita da Silva, ex-governadora do Rio de Janeiro, e o chefe do programa Fome Zero, José Graziano, já desgastado porque a meta “número um” do governo Lula não deslanchava.

José Dirceu, que já tinha superpoderes, agora parece tê-los ainda mais ampliados, embora tenham colocado ao seu lado Aldo Rebelo, do PC do B, a quem caberão os entendimentos políticos. José Dirceu será o superministro, coordenando e até mandando nos demais.

Em time que está ganhando, não se mexe. A reforma foi tão grande e tão profunda que revela que Lula reconheceu que o seu time de governo estava perdendo.

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