G-20 e UE retomam negociações agrícolas

Brasília  – Representantes do G-20 (grupo de países em desenvolvimento exportadores de produtos agrícolas) e da União Européia reúnem-se na quinta e na sexta-feira em Brasília para retomar o diálogo sobre as novas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) para a agricultura. “Saímos da última rodada de negociação, em Cancún, com a cara virada um para o outro”, disse o diretor do Departamento de Políticas e Acordos Comerciais do Ministério da Agricultura, Lino Colsera. “Agora, teremos uma conversa para tentar nos reaproximar e ter uma conversa franca, retomar o processo negociador com mais empenho.”

Dos interlocutores que saíram de Cancún com a cara virada, fica faltando os Estados Unidos. Mas, explicou Colsera, se o G-20 e a União Européia conseguirem apaziguar os ânimos e, na medida do possível, obter alguma aproximação de posições já será um ponto positivo. Isso porque está marcada para o dia 15, em Genebra, a reunião que definirá todo o processo negociador de 2004.

O que o Brasil pretende obter desse encontro em Brasília é um tema que ainda será discutido amanhã, numa reunião de nível técnico no Ministério da Agricultura. Também está em aberto o formato da reunião.

A proposta do Brasil é de que seja realizado um encontro do G-20, primeiro, e depois uma reunião do G-20 com o comissário de Comércio da União Européia, Pascal Lamy, que desembarca no Brasil na quinta-feira. Essa agenda, porém, ainda não foi fechada. Além de Lamy, participará da reunião o diretor da OMC, Supachai Panitchpakdi.

Há dúvidas até sobre qual será o ponto de partida das discussões. O conflito básico surgido em Cancún é que o G-20 defende o fim dos subsídios à exportação de produtos agrícolas. Já União Européia e Estados Unidos, que defenderam uma posição conjunta, concordam em eliminar os subsídios apenas sobre parte das exportações agrícolas, em produtos que sejam de interesse dos países em desenvolvimento. “Essa proposta é capciosa”, disse Colsera. “Duvido que a União Européia concorde em eliminar os subsídios sobre o açúcar, que é um produto de nosso interesse.”

Uma possibilidade é iniciar o diálogo a partir dos dois documentos, o do G-20 e o da União Européia e Estados Unidos. Outra é usar como ponto de partida o chamado papel Derbez, um relatório elaborado pelo ministro das Relações Exteriores do México, Luiz Derbez, na tentativa de condensar os resultados da reunião de Cancún.

A reunião está sendo apontada por negociadores também como uma oportunidade para mostrar que o G-20 continua coeso. O grupo, criado em Cancún sob a liderança de Brasil, Índia, China e África do Sul, tem sido alvo de críticas por parte da União Européia e Estados Unidos, a quem não interessa ter um interlocutor desse peso nas negociações. Há dúvidas sobre sua longevidade, principalmente diante da tática dos países desenvolvidos em minar o grupo. Desde sua criação, em 20 de agosto deste ano, o grupo já perdeu países como El Salvador, Costa Rica, Colômbia, Peru e Equador. Por outro lado, aderiram ao grupo a Nigéria, a Tanzânia e o Zimbábue.

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