Fuga de cérebros

Professor de ética e filosofia política da Unicamp, Roberto Romano, em palestra que pronunciou na 55.ª Reunião Anual da SBPC em Recife, disse que a reforma da Previdência do governo Lula é parte de “um desestímulo programado para expulsar do País professores universitários”. O tema da palestra ligava ciência e tecnologia à defesa nacional. Sua preocupação com a fuga de cérebros não se sustenta só na reforma previdenciária. Leva também em consideração os ataques que têm sido dirigidos às elites intelectuais, com discursos ou insinuações de que o conhecimento acadêmico seria descartável, talvez para afirmar que a pouca escolaridade do atual presidente confirma essa tese. Lula tem demonstrado que sua falta de escolaridade é suprida por conhecimentos práticos, vivência e uma indiscutível inteligência. Isso não indica, entretanto, que do saber adquirido nas Universidades e instituições de pesquisas pode prescindir um país gigantesco e ainda em desenvolvimento como o Brasil.

A reforma da Previdência trabalha expulsando cérebros, na medida em que conjuga exigências de aposentadorias de professores com mais tempo de serviço com ganhos menores. O País tem assistido a uma fuga permanente e numerosa de intelectuais, técnicos e até de trabalhadores menos qualificados. Todos procuram em outros países melhores condições de vida. Já desprezam até as ansiadas melhores condições de trabalho, pois não poucos brasileiros de boa escolaridade se sujeitam a funções de menor importância para obterem salários melhores.

A reforma da Previdência, quando estabelece limites de ganhos, principalmente para os aposentados, em níveis muito baixos, retira naturais expectativas de uma confortável remuneração na atividade, e de justos proventos na inatividade, inclusive da elite intelectual. Esta, quando dedicada ao magistério ou à pesquisa, não está preparada para complementar ganhos com segundos empregos ou bicos. E os salários que lhes oferecem não permitem que existam sobras para montar pecúlios em sistemas de aposentadorias complementares, em valores suficientes para garantir um futuro tranqüilo.

Procurado por repórteres, depois de sua palestra, o professor da Unicamp Roberto Romano disse que a expulsão de cérebros do País não se resume apenas à reforma da Previdência em si, mas é reforçada pelos “ataques” do presidente Lula à universidade, ao criticar “professores que se aposentam aos 55 anos de idade”. “Pessoas tratadas como criminosos no seu país de origem e que percebem um salário quase de fome”, disse, são estimuladas a trocar o Brasil pelas universidades européias ou norte-americanas.

Romano defendeu também os investimentos em defesa, sustentando que o país precisa de uma política nesse sentido, já que os EUA obrigaram o mundo a retornar ao sinistro mundo de “Hobbes”. Referia-se ao filósofo britânico Thomas Hobbes que afirmava que o ser humano, em seu estado natural, viveria em guerra permanente. Na opinião do mestre da Unicamp, o nosso País não deve ser “um carneiro desse rebanho”. E vaticinou que disputas futuras podem, por exemplo, transformar os nossos recursos hídricos em motivos de guerras contra nós.

A primeira tese, a de fuga de cérebros, dispensa defesa, pois está comprovada. A segunda, sobre a defesa, é uma preocupante advertência que, à primeira vista, tendemos a rejeitar. Mas, não obstante isto, deve ser estudada e bem pensada.

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