França escolhe Brasil como o país do qual vai celebrar a cultura no ano de 2005

É uma verdadeira tomada verde-amarela da Bastilha. O Brasil está em todo lugar da França. Da capital às pequenas vilas, do grande museu à pequena galeria, das ruas à já tradicional Praia de Paris, balneário artificial às margens do Rio Sena. E das universidades aos centros de convenções. Em Paris, o Brasil ocupa espaços no Grand Palais, Louvre, Cité de la Musique, Beaubourg, La Villette, Museu de História Natural. E em dezenas de outras cidades, como Marselha, Lyon, Auxerre, Le-Havre, Rouen, Lille, Reims, Nantes, La Rochelle.

Trata-se do megaevento O Ano do Brasil na França 2005, organizado pelos governos francês e brasileiro. Depois de Argélia, China e Polônia, a França escolheu o Brasil como o país do qual vai celebrar a cultura no ano de 2005. Começou em janeiro e prevê cerca de 400 eventos relacionados à cultura, comércio, economia, tecnologia, ciência. A programação foi escolhida entre as mais de 2.500 inscrições recebidas pelo Ministério da Cultura. Ao todo, serão investidos pelo Brasil algo em torno de R$ 40 milhões, entre o governo e suas estatais. A iniciativa privada entra com R$ 20 milhões, por meio da Lei Rouanet. O público esperado é de 16 milhões de pessoas.

Fóruns comerciais aproximarão empresários dos dois países. O primeiro, promovido pela Associação de Comércio França-Brasil, reuniu no dia 16 de abril em Paris cerca de 500 empresários brasileiros e franceses.

Mais de 400 obras de arte indígena já ocupam a mostra Brésil Indian, no Grand Palais de Paris, até 25 de junho. Os índios banivas, do alto Rio Negro, foram a Paris para montar um cacuri, exclusivamente para a exposição do Grand Palais.

Nas prateleiras dos supermercados franceses, produtos brasileiros típicos, como o pão-de-queijo, os doces, a caipirinha e o suco de abacaxi com hortelã estarão presentes, além de produtos têxteis, móveis e outros. Do estômago ao espírito, nada foi esquecido. "Eu os convido a aguçar vossos sentidos", conclamou o embaixador do Brasil na França, Sérgio Amaral, no lançamento do Ano. "Essa reapresentação do Brasil ao mundo, em que o país fala de si em seus próprios termos, tem o ambicioso objetivo de equilibrar os fluxos da globalização, seja no plano simbólico, ou seja, no plano das idéias, dos valores, das imagens, seja no plano material, no que se refere ao mercado ao comércio", disse o ministro Gilberto Gil.

Historicamente, a parceria entre Brasil e França é uma relação intensa e complexa. A curiosidade intelectual, filosófica e cultural trouxe ao Brasil pensadores pioneiros como Paul Claudel, Darius Milhaud, Blaise Cendrars, Georges Bernanos, Roger Caillois, Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide e Pierre Verger. Assim como a França atraiu desde sempre os brasileiros, como os modernistas Lasar Segall e Tarsila.

Essas relações prosseguem ao longo dos séculos como estradas de mão dupla, passando pela arte de Oscar Niemeyer, Hélio Oiticica e Jorge Amado e culminando no atual e renovado interesse pela música de artistas como Seu Jorge, Lenine, Chico César, Marisa Monte, Velha Guarda da Portela – relações enfatizadas pelos três ministros de Estado envolvidos no projeto Michel Barnier, das Relações Exteriores, e Renaud Donnedieu, da Cultura, pelo lado francês, e Gilberto Gil, pela cultura brasileira.

"Também procuramos ‘exportar’ ao planeta, em meio ao recrudescimento de fundamentalismos variados, aquela que talvez seja a principal conquista da sociedade brasileira, presente em nossos bens culturais, que é a cultura da paz, do convívio das diferenças e da harmonia com o corpo e a natureza", avaliou o ministro Gil.

Segundo Márcio Meira, secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura – que coordena a agenda – a montagem do projeto Ano do Brasil na França começou há dois anos e se equilibrou num desejo de mostrar não só a tradição, mas também a contemporaneidade. E pensado para ser uma jornada de 10 meses em três "blocos" – batizados respectivamente de Raízes do Brasil (homenagem a Sérgio Buarque de Holanda e ao estudo da nossa gênese sociológica), Verdade Tropical (reverência a Caetano Veloso e à tradição "carnavalizante") e Galáxias (celebração da criação de Haroldo de Campos e das vanguardas). Segundo Meira, a idéia é equilibrar uma agenda que mostre as tradições e a diversidade cultural do Brasil e também a modernidade, a tecnologia.

A agenda Brasil-França, no entanto, não é uma estrada de mão única. Na semana passada, por exemplo, uma delegação com 25 franceses (entre escritores, editores, ensaístas e teóricos) desembarcaram no Rio para participar da 12.ª Bienal Internacional do Livro – entre eles Lolita Pille, Marie Darrieussecq, Marc Levy, Gilles Lapouge (correspondente do Estado), entre outros. A programação completa do evento pode ser conferida no site www.bresilbresils.org.

Voltar ao topo