Fim do caos

O caos aéreo começa a se desfazer. Tende a terminar a médio e longo prazos, o que já é bastante para um Brasil que não tinha perspectiva de ver uma luz no fim do túnel do apagão. Nelson Jobim, ex-deputado federal e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, assumiu o Ministério da Defesa na hora certa. Melhor que tivesse assumido antes, mas tudo indica que então não teria as mesmas chances que hoje tem de buscar, com a tenacidade com que vem agindo, uma solução para tão complexo problema.

O Ministério da Defesa vinha sendo ocupado por Waldir Pires, um civil, o que atende aos objetivos do País de acabar com nada menos de quatro ministérios militares (Aeronáutica, Marinha, Exército e Estado-Maior das Forças Armadas) e entregar o setor a um só responsável, civil ou militar, tendo sob si comandantes militares. Essa experiência já existe em outros países e funciona muito bem. No Brasil sempre pareceu ficção, pois temos uma longa tradição de ministérios militares sob o comando de altas patentes de cada arma e preconceitos de lado a lado, os civis jamais se apresentando como capazes de chefiar tão importante e especializado setor. Desde que criado, o Ministério da Defesa foi uma ficção. Os ministros civis que o ocuparam jamais tiveram autoridade de fato e prestígio para comandarem de fato. E talvez o que menos autoridade demonstrou foi Waldir Pires. Foi, senão omisso, pelo menos fraco. Demonstrou não ter as rédeas do poder que o cargo lhe outorgava. E até parecia procurar eximir-se das responsabilidades pela crise ou pela busca de suas soluções. Isso quando a pirâmide do poder o colocava no topo da hierarquia, tendo sob si o Comando da Aeronáutica e toda a mal-estruturada máquina do tráfego aéreo que já se mostrava caótica a partir do desastre, há mais de dez meses, com o avião da Gol. O caos não se instalou então, nem se agravou com a catástrofe da explosão do avião da TAM. Ele já existia e, como bem disse o próprio presidente Lula, tudo funcionava como se o setor fosse cachorro sem dono. Como ninguém sabia quem mandava, ninguém cuidava.

Impossível não responsabilizar o governo federal. Ele é responsável não só porque o setor aéreo é de sua alçada, como porque reteve recursos indispensáveis para, senão melhorá-lo, pelo menos evitar que se deteriorasse de todo. O acidente com o avião da TAM, que causou 199 vítimas, colocou o governo contra a parede. Ou resolve ou arrosta com as conseqüências. O presidente demorou a convencer-se de que deveria substituir o ministro Waldir Pires, assumir as responsabilidades pelo setor aéreo e colocar no Ministério da Defesa um homem de ação. Nelson Jobim é esse homem e sua postura, primeiros atos e forma de agir apontam para o fim da crise. Outra coisa que se observa é que Jobim, como ministro da Defesa, trata os chefes militares, inclusive o da Aeronáutica, um brigadeiro, com o merecido respeito, mas sem nenhum temor reverencial. Ele, Jobim, é quem comanda e Saito parece bem compreender e respeitar essa situação, que resulta de mandamentos constitucionais.

Jobim anunciou que o governo federal dispõe de R$ 3 bilhões para uma série de obras emergenciais em três aeroportos de São Paulo: Cumbica, Viracopos e Jundiaí. A maior parte do dinheiro irá para a reforma da pista principal de Cumbica, que deve ser iniciada já. Os jatinhos vão usar a pista de Jundiaí.

Congonhas, que tinha capacidade para 12 milhões de passageiros por ano, vinha operando com 18 milhões. A retirada de muitos desses vôos, reformas indispensáveis e um uso mais racional colocarão as coisas nos eixos. Novas providências poderão unir Cumbica a São Paulo por trens de alta velocidade e um novo aeroporto deverá ser construído. Quanto ao dinheiro, parece evidente que enquanto os sonegava às estruturas sob Waldir Pires, o governo Lula não terá agora condições de fazer o mesmo com Nelson Jobim. Primeiro, porque assumiu o cargo de ministro da Defesa para resolver e não para ser mais um inútil na já caótica malha do governo.

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