Fernando Henrique admite ter errado ao engessar câmbio

São Paulo, 25 (AE) – A cautela excessiva para soltar o câmbio, em 1999, com medo da volta da inflação, talvez tenha sido o maior erro do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na condução do Plano Real. A reflexão foi feita hoje por Fernando Henrique, durante uma coletiva sobre os dez anos do Real, que serão completados na quinta-feira (01). “Todo mundo queria o câmbio flutuante e sabíamos que o ideal era chegar lá, mas tínhamos medo de soltar o câmbio e trazer de volta a inflação”, lembrou. “Se nós tivéssemos tido essa condição antes, teria sido melhor.”

Entretanto, ressaltou Fernando Henrique, o balanço do Real é extremamente positivo. Depois de visitar a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), ele observou que o real hoje tem uma variação pequena. “Assim, o que nós almejávamos, que era a estabilidade, nós conseguimos”, salientou o ex-presidente. “De qualquer forma, criticar agora é o negócio de engenheiro de obra feita”, prosseguiu. “Uma coisa é falar agora, de longe. Outra é na hora de tomar decisão. Nunca se age assim com a temperatura ideal. É sempre sob pressão. Diante da situação que havia, acho que conseguimos dar rumo ao Brasil.”

Ainda segundo ele, não há comparação entre as pressões sofridas por seu governo com crises econômicas internacionais e as críticas que recebe o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci. “Hoje, a situação é muito mais tranqüila. Não tem problema cambial. Não há comparação.”

Ele lembrou que, no início, nem havia o nome Real. “Como não tinham certeza se iria dar certo, deram o nome de Plano FHC e diziam que era nome de pesticida”, ironizou. O grande drama, segundo ele, era que a inflação sempre puniu as classes mais pobres. “Se nós fomos renitentes para ter estabilidade, não era para a saúde abstrata da economia, mas para o povo”, explicou. “Você pode aumentar sua simulação de crescimento, mas quem vai pagar é o povo.”

De acordo com Fernando Henrique, esta é a grande questão posta pelo Real e que deve ser enfrentada pelo atual governo. “É isso que você tem de balançar: vale mais a pena crescer, com o povo pagando um preço elevadíssimo, ou é melhor crescer menos com inflação sob controle.”

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