Fechamento de fábrica da Azaléia agrava desemprego na indústria calçadista

O fechamento da unidade de produção de tênis da Calçados Azaléia em São Sebastião do Caí, anunciado na segunda-feira, voltou a expor a crise do setor calçadista, especialmente das indústrias do Rio Grande do Sul, muito voltadas para a exportação. O impacto da extinção de 800 empregos já é lamentado por todo o município de 21 mil habitantes, a 59 quilômetros de Porto Alegre. A prefeitura calcula redução de 40% do retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A Câmara de Dirigentes Lojistas prevê queda de 10% nas vendas das lojas em dezembro e inadimplência no segundo semestre do ano que vem, quando os trabalhadores deixam de receber o seguro-desemprego.

A explicação oficial para o fechamento da fábrica dada em comunicado distribuído pela empresa, é de que "a profunda crise nas exportações de calçados brasileiros deixou a Azaléia sem outra alternativa, depois de 18 meses de tentativas e prejuízos, que não a de encerrar as atividades de sua unidade em São Sebastião do Caí". Não é um caso isolado. Somente neste ano cerca de 30 unidades de produção de calçados, a maioria terceirizadas, fornecedoras de empresas localizadas no Brasil e no exterior, fecharam suas portas. E o número tende a aumentar. Fontes ligadas ao setor dão como certo o final de atividades de mais duas fábricas, em Venâncio Aires e em Mato Leitão, ainda nesta semana.

Com base em dados do Ministério do Trabalho, a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) constatou que o desemprego já atingiu 13,5 mil pessoas de novembro do ano passado a outubro deste ano no Rio Grande do Sul. A estatística será engrossada quando forem lançados os dados da Azaléia e de quem mais fechar suas fábricas nos próximos dias.

Ao falar sobre o fechamento da unidade de São Sebastião do Caí, o presidente da Azaléia, Antônio Britto, disse que a empresa já fez, com isso, o ajuste necessário à manutenção dos outros 18 mil empregos espalhados por 28 unidades, sendo cinco no Rio Grande do Sul, 18 na Bahia e cinco em Sergipe, estas abertas neste ano. O mercado interno, menos desfavorável neste momento, ajuda a segurar a produção, comprando 80% da produção anual de 35 milhões de pares de calçados da Azaléia.

As empresas também sofrem os efeitos da desvalorização do dólar nas vendas internas. O câmbio não se limita a reter exportações. Também estimula as importações. "A combinação dos dois fatores vai dar um déficit de 32 milhões de pares de calçados neste ano" prevê o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein. O raciocínio é simples. As empresas brasileiros estão deixando de exportar 18 milhões de pares por não conseguirem repassar a diferença cambial para seus preços. E também estão deixando de vender 14 milhões de pares que chegaram do exterior para o mercado brasileiro com preços competitivos.

Além do câmbio, os empresários reclamam do contrabando, que despeja volumes consideráveis de calçados no País, e dos altos impostos, que retiram a competitividade do produto brasileiro. Os trabalhadores gaúchos concordam, mas adicionam outro fator, a oferta de incentivos por governos do Nordeste, para o fechamento de fábricas no Sul. Somadas a concessão de terrenos, isenções de impostos e mão-de-obra mais barata, o custo médio de produzir em Estados como Sergipe, Bahia e Ceará, chega a ficar 30% mais barato do que no Sul.

"Está faltando alguém com coragem política para acabar com a guerra fiscal", reclama o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados e do Vestuário de São Sebastião do Caí, Valdir Raimundo Ramos, confessando-se ainda surpreso com a decisão da Azaléia. Nos próximos dias, a homologação das 800 rescisões de contratos também vai tirar 66% da categoria do sindicato, que representa cerca de 1,2 mil trabalhadores de São Sebastião do Caí, Capela. Feliz, Bom Princípio e Vale Real.

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