Fantasia e realidade

Depois das poucas apresentações dos candidatos ao governo do Estado, olhando pela rama do potencial dos primeiros na pesquisa Ibope/RPC (Requião, Osmar, Rubens Bueno e Flávio Arns), ainda não se pode afirmar que haja uma campanha eleitoral em marcha. A opinião é convalidada por analistas políticos, observadores isentos e pelos próprios eleitores, estes, aliás, em maioria absoluta desinteressados da movimentação de candidatos, propostas e candentes juras de fidelidade aos interesses da população.

Não há planos definidos de nenhum deles e, diante da falta de elementos fortes a delinear um virtual projeto de governo, torna-se impossível a análise proficiente da plataforma de um ou outro postulante. Até agora ouviram-se obviedades e, em muitos casos, a repetição das promessas jamais cumpridas desde a inauguração do horário gratuito em rádio e TV, no longínquo ano de 1974. Para ficar no básico, o desemprego aumentou; saúde, educação e segurança pública chegaram aos patamares mais ínfimos da decadência, mas os candidatos não mudaram a cantilena.

O que vem à mente dos eleitores, em primeiríssimo lugar, é a devastação causada na vida pública pela superposição dos escândalos do mensalão e dos sanguessugas. O eleitor ainda não tem como saber quando tais mazelas tiveram início. Poucos sabem, realmente, e os que porventura têm conhecimento jamais contarão se os valerianos começaram a operar antes dos sanguessugas, ou se foi o contrário: os sanguessugas aproveitaram a brecha dos mensaleiros e também começaram a morder.

Há, por outro lado, o grupo defensor da tese que o valerioduto e o vampirismo são canais paralelos e, em alguns segmentos, dotados de vasos comunicantes, até porque um não poderia sobreviver sem o outro. E, assim, mais de 70 componentes da Câmara dos Deputados e três senadores foram pegos com a boca na botija embolsando sobras da compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras municipais. Os recursos vinham do Orçamento Geral da União, mediante emendas pessoais de parlamentares para o setor da saúde. É este cenário que enoja e afasta o eleitor.

Também a campanha dos presidenciáveis não desperta o interesse da população. Os dois dianteiros, Lula e Alckmin, decerto têm com que se preocupar porque no vácuo das propostas e, no caso do tucano, a apatia do desempenho televisivo, Heloísa Helena empunhou a bandeira da ética e soube aproveitar o estupor do eleitorado, a ponto de se aventurar a refazer as contas e imaginar-se encarando Lula no segundo turno.

A campanha deverá deslanchar nos próximos dias, mesmo porque os candidatos e seus ideólogos vão descobrir o óbvio: a falta de entusiasmo do eleitor. Contudo, para (re)conquistar a confiança dos votantes, a mensagem terá de ir além das boas intenções, das quais o inferno está repleto. Quem dispõe da prerrogativa do voto não aceita mais a lengalenga do pensar grande, da liderança comunitária e do trabalhar sem descanso.

Interessa ao eleitor saber quais são os planos essenciais de cada candidato e, este é o gargalo, donde virá o dinheiro para torná-los realidade.

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