Falta de compostura

Na Cúpula Ibero-Americana faltou seriedade em certas discussões, apesar da importância do encontro realizado em Santiago do Chile. Coube ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o papel de agente provocador e palhaço, embora mais gente, inclusive brasileiros, tenham aplaudido suas gozações. Para começar, o ditador venezuelano, indagado pela imprensa sobre os protestos que se realizam no seu país contra suas ações visando eternizar-se no poder e calar a imprensa, a oposição, a justiça, o parlamento e quem mais possa contrariá-lo, respondeu cantando. Nada disse sobre os confrontos que se têm dado entre sua polícia e milícias contra estudantes e populares inconformados com a ditadura disfarçada que está impondo no país.

No plenário, fez claras gozações com o presidente Lula, por este haver anunciado a descoberta do maior poço de petróleo do Brasil, encontrado nas profundezas do mar na bacia de Santos. Chamou-o de ?magnata petroleiro?, e disse que agora o presidente do Brasil quer entrar na Opep, associação dos grandes produtores de petróleo do mundo da qual a Venezuela faz parte. Na base da gozação, convidou o presidente brasileiro para montar uma binacional do petróleo com a Venezuela e por aí adiante. Provocou risos no plenário, onde também estavam chefes de Estado e autoridades sérias, dispostas a discutir assuntos relevantes de interesse das nações ibero-americanas.

Chávez foi mais agressivo com o ex-chefe de governo espanhol, José María Aznar, ao qual chamou de fascista. O rei Juan Carlos reagiu imediata e severamente, perguntando a Hugo Chávez: ?Por que não se cala??. O desrespeito do ditador venezuelano a outros países e seus governantes vem se repetindo amiúde. Contra o Brasil, tem sido insistente. Já atacou o nosso Congresso, principalmente pelo trâmite lento de seu pedido de ingresso da Venezuela no Mercosul. O que desagrada é que o governo Lula passa recibo. No caso da gozação sobre a entrada do Brasil na Opep, quando era evidente que Chávez estava menosprezando a indiscutível importância da descoberta do grande poço petrolífero submarino na bacia de Santos, tanto autoridades que acompanhavam Lula, quanto o próprio presidente brasileiro, fingiram haver levado a sério tudo o que foi dito. Sim, o Brasil quer entrar na Opep. Também quer fazer uma binacional do petróleo com a Venezuela para procurar vender petróleo a preços mais baixos e justos aos países mais pobres. E riram e bateram palmas.

Chávez não pode ser levado a sério. Precisa ser repudiado não só porque é um ditador que está suprimindo as liberdades democráticas no seu país e ainda influindo em outros governos atrabiliários que estão surgindo na América Latina, inclusive o ?muy amigo? Evo Morales, da Bolívia, como também porque seu comportamento está muito abaixo do mínimo que se espera de um chefe de Estado. Quando desrespeita Lula ou o Congresso brasileiro, não importa que opinião internamente tenhamos sobre o presidente ou o parlamento, está desrespeitando o nosso País. Precisa de um ?cala-boca?, como aplicou-lhe o rei da Espanha.

No mais, sabe Lula que o novo poço de petróleo descoberto no Brasil ainda está em estudos. Existem sérias dificuldades para sua exploração. Vão desde o fato de estar em profundidade não alcançada por outros países do mundo, falta de tecnologia testada para sua exploração, uma imensa camada de sal dificultando o acesso e custos de exploração tão altos que poderão tornar a extração pouco econômica. Certo que tentaremos superar tudo isso. Também certo que qualquer solução demandará um período de uns oito anos. Quanto a fazer uma binacional para vender petróleo mais barato, a preço justo para os países menos favorecidos, não nos esqueçamos que o preço justo é o de mercado. E o Brasil, se um dia tiver a felicidade de se transformar num exportador de petróleo, muito precisará ganhar para tentar, um dia, acabar com a histórica miséria de grande parte do nosso povo.

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