Facções criminosas se organizam mais rápido do que Estado, avalia professor

Brasília – Ao analisar as rebeliões e os ataques em São Paulo, o advogado e professor de Direito Penal da Universidade de Brasília (UnB), Aldo de Campos Costa, avalia que as facções criminosas estão se "organizando" e o Estado se "desorganizando". "O Estado não tem tido cuidado suficiente para se atentar que o profissionalismo está tomando conta das organizações criminosas e que eles estão recorrendo a todos os meios, legítimos e ilegítimos, para buscar mais espaço e para que sejam ouvidos. Seja através da instabilidade, da violência, do caos e do medo", disse.

Para Costa, a grande lição desse episódio é que não existem soluções "mirabolantes" para um problema que vem se mostrando crônico ao longo dos anos. Em entrevista à Rádio Nacional, Costa disse também que "não existem soluções imediatistas como propõe o Congresso Nacional, votando leis a reboque dos acontecimentos". "É algo que tem que ser tratado com seriedade. A solução não se dá de uma hora para outra. Tem que haver investimento na segurança pública, educação, saúde, enfim, coisas que não se consegue de um dia para outro", afirmou o professor.

O professor propõe uma melhor distribuição dos policiais no patrulhamento das ruas. "Ouve-se que existem nesse momento 130 mil policiais em São Paulo. Às vezes não há necessidade de tanto efetivo assim. Há de se saber com inteligência aonde aplicar o corpo policial. O que se está revelando é uma total falta de organização por parte do estado".

Costa afirma que a solução está no profissionalismo e na unificação das polícias. Ele critica a decisão do governo de São Paulo de não aceitar ajuda da Força Nacional de Segurança Pública. "Não há razão para que nós tenhamos um corpo policial tão separado, sem unidade de ações. As ações têm que ser coordenadas mas, em tudo isso, se esbarra em muita vaidade política", disse. "O governador de São Paulo, por uma vaidade injustificável, não aceita o envio da Força Nacional que foi criada justamente para atender esse tipo de situação", completou.

O advogado sugere ainda a criação de oficinas de trabalho nos presídios para ajudar no combate à criminalidade. "Oficinas não simplesmente para construção de barcos de madeira, como se vê muito, ou costurar gomos para bolas. Isso não é profissão, é passatempo", falou. "O fato é que há necessidade de oficinas profissionalizantes, cursos de primeiro e segundo graus que incentivem, de fato, o sentenciado a obter a sua liberdade, e que possa reingressar na sociedade posteriormente."

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