Exportação irregular de farinha de trigo também prejudica a Argentina

A entrada de farinha de trigo irregular no Brasil da Argentina tem prejudicado não somente a indústria brasileira, mas também o governo da Argentina. Até o momento, a quantia estimada de impostos de exportação, que o governo argentino deixou de arrecadar nos últimos quatro anos e que ainda estão sendo sonegados, é de cerca de 29 milhões de dólares.

Com a instituição do imposto de exportação de 20% sobre a farinha de trigo, em abril de 2002, ocorreu um curioso fenômeno: muitos fabricantes argentinos pararam de exportar farinha de trigo e passaram a exportar a chamada "pré-mistura" para a indústria de panificação brasileira, sujeita, por sua vez, a uma alíquota menor do imposto: 5 %.

No entanto, o produto exportado pela Argentina registrado como pré-mistura, de mistura para pão não tem nada, apenas farinha e sal. A Receita Federal comprovou sua composição mediante a fiscalização e o envio de amostras para análises, intensificadas a partir deste mês.

Para a Associação Brasileira da Indústria do Trigo as fraudes de farinha argentina vêm ocorrendo em decorrência do subsídio oferecido pelo governo argentino às exportações de pré-misturas. Segundo a Associação, a única solução para que a fraude seja desestimulada na Argentina é a equalização dos impostos de exportação do trigo, da farinha e da mistura de trigo pelo Governo Argentino, pois aí não existirá motivo para alterar a classificação dos produtos, para obter o benefício tributário.

Como funciona a fraude

O trigo e a farinha de trigo argentina pagam imposto de exportação de 20%, enquanto que a alíquota da mistura de farinha de trigo é de apenas 5%. Ou seja, o trigo utilizado pelos moinhos brasileiros para produzir farinha, e a própria farinha importada, entram no Brasil com uma taxação 15% maior se comparada à alíquota da mistura. Aproveitando os benefícios deste subsídio, moinhos argentinos vêm exportando ao Brasil grandes quantidades de farinha de trigo pura como pré-mistura, desde 2002 quando o subsídio entrou em vigor. Eles classificam a farinha de trigo pura como pré-mistura, sem que ela apresente características necessárias para essa classificação.

A fiscalização nada tem a ver com as regras do Mercosul, que regulam outros aspectos comerciais entre os países que o integram, como vinham afirmando representantes argentinos. O Canal Vermelho estabelecido pela Receita Federal tem como objetivo principal evitar que a farinha de trigo entre no país como mistura ou pré-mistura, o que vem prejudicando significativamente a indústria brasileira do trigo, pela competição desleal e o governo argentino.  A decisão de fiscalizar foi tomada devido às denúncias comprovadas de que produtos adulterados e com valor subfaturado estavam entrando no país, com identificação incorreta.

Diante deste cenário, a indústria brasileira de trigo não está conseguindo competir de forma justa com o produto argentino, o que vem causando redução da produção de farinha no país e, consequentemente, aumento da ociosidade dos moinhos – hoje em torno de 40%, bem como o risco de desemprego. Atualmente, o setor de trigo no Brasil emprega diretamente mais de 35 mil trabalhadores, além de gerar 2 milhões de empregos indiretos.

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