Expectativas frustradas

Graças aos constantes avanços da pesquisa agronômica que possibilitaram o desenvolvimento de cultivares adaptados às condições de clima e solo de nossas principais regiões de cultivo, ademais da expansão da fronteira, a produtividade da agricultura brasileira tem propiciado expressivos aportes à economia mediante a colheita e comercialização de safras abundantes. Atividade de risco, por excelência, a resposta da agricultura só não tem sido mais substancial em volume físico por conta do comportamento instável do clima – chuva em excesso ou estiagem prolongada – nos períodos decisivos de implantação, desenvolvimento das lavouras ou colheita.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão pertencente ao organograma do Ministério da Agricultura, liberou há alguns dias o último levantamento da safra de grãos e algodão referente ao ano agrícola de 2005/2006, acusando a diminuição da estimativa final da colheita para 121,1 milhões de toneladas, ainda assim 6,3% maior que a safra do ano passado, que ficou em 113,9 milhões de toneladas. No levantamento anterior, dado a conhecer em abril, a estimativa era ligeiramente superior – menos de meio ponto percentual – e estava fixada em 121,5 milhões de toneladas.

Numa repetição dos fatores determinantes da frustração das expectativas da colheita, da mesma forma que no ano passado, as reduções atuais se deveram à adversidade climática, mais uma vez a estiagem na maioria dos estados e o oposto na região centro-oeste, onde se registrou excesso de chuvas. Segundo o presidente da Conab, Jacinto Ferreira, houve também nessa região forte incidência da ferrugem asiática da soja, doença fúngica que comprometeu grande extensão da área plantada.

A primeira indicação da safra 2005/2006, divulgada pela Conab em outubro do ano passado, estabelecia o intervalo entre 121,532 milhões e 124,854 milhões de toneladas, mas os números foram declinando até o cálculo mais recente de 121,1 milhões de toneladas. Mesmo com a grave crise econômica enfrentada este ano pela agricultura, os produtores ainda vão tirar da terra a segunda maior safra da história, somente suplantada pelo recorde obtido em 2002/2003, com 123,2 milhões de toneladas de grãos e algodão. Em função dos prejuízos causados pela natureza e a inflexibilidade da política econômica, o agronegócio deixou de ser o item primordial da ufanística propaganda governamental para se transformar em primo pobre, mercê da apreciação do real frente ao dólar norte-americano, considerada excessiva e irresponsável por nove entre dez empresários, economistas e executivos de comércio exterior. Um bom exemplo dessa galopante compressão da margem de ganhos dos produtores de soja viu-se no centro-oeste (32,9% da produção nacional), a tal ponto que sequer os custos de produção das lavouras estão sendo amortizados.

Nem o pacote emergencial de R$ 16 bilhões lançado pelo governo para socorrer os agricultores atenuou o impacto das perdas acumuladas nos últimos anos, em conseqüência da inadimplência da maioria dos produtores. O ministro Roberto Rodrigues, ao analisar as causas do protesto dos sojicultores, não se mostrou otimista quanto à solução do problema, lembrando que quaisquer mudanças em macroeconomia são complexas e geradoras de pesada resistência.

Os produtores fecharam as estradas para impedir o transporte de grãos, farelo e óleo de soja aos terminais de exportação – alguns jogaram fora parte da produção – forçando a paralisação de muitas indústrias pela falta de matéria-prima. A isso denominaram o novo ?grito do Ipiranga?…

Voltar ao topo