Ex-presidente da Casa da Moeda nega ter recebido de Marcos Valério

Brasília (AE) – Apontado como receptor de cerca de R$ 2,7 milhões do esquema do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, o ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino dos Santos saiu da CPI do Mensalão sem explicar nada. Depois de mais de cinco horas de depoimento, os parlamentares não conseguiram descobrir por quê o publicitário o apontou como um dos operadores. Severino negou tudo.

Demonstrando impaciência com as perguntas dos parlamentares, repetiu pelo menos uma dezena de vezes que não podia dar conta do dinheiro porque nunca o havia recebido e nem autorizado alguém a recebê-lo em seu nome. "Não tenho conhecimento. Não sei porque meu nome faz parte dessa lista", afirmou. O ex-presidente da Casa da Moeda – e ex-tesoureiro da campanha de Benedita da Silva (PT) ao governo do Rio de Janeiro, em 2002 – admite apenas envolvimento no primeiro saque, de R$ 100 mil. E, mesmo assim, "involuntariamente".

De acordo com Severino, no final da campanha de Benedita o PT fluminense decidiu fazer alguns eventos de agradecimento pelos votos recebidos em regiões do Estado. Para isso, contratou carros de som e gráficas para fazer panfletos. Essas despesas não entraram na prestação de contas da campanha de Benedita. "Algumas reclamações de não pagamento começaram a aparecer sobre essas despesas. Procurei uma das pessoas que faziam parte da coordenação da campanha e orientei para que conversasse com quem reclamava", disse.

Esse pessoa era Carlos Roberto Macedo Chaves, ex-subsecretário de Fazenda do município de Mesquita (Baixada Fluminense). Seu nome é citado numa listagem do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como tendo retirado R$ 100 mil das contas de Valério. "Eu conversei com a Secretaria de Planejamento e Finanças do PT nacional, falei com o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) e disse que precisávamos dessa ajuda. Era algo em torno de R$ 170, R$ 180 mil. A campanha já havia sido encerrada, foi derrotada, não havia como arrecadar mais recursos", afirmou.

Na lista entregue por Marcos Valério à CPI, ao Ministério Público e à Polícia Federal, o nome de Manoel Severino aparece mais vezes, chegando a R$ 2,67 milhões – valor quase igual ao que foi gasto na campanha de Benedita, de acordo com a prestação de contas apresentada pelo PT do Rio de Janeiro. Foram quatro saques. O primeiro, de R$ 100 mil, em setembro de 2003. O segundo, de R$ 326 mil, em janeiro de 2004. Um terceiro de R$ 750 mil em abril de 2004 e um último, de R$ 1,5 milhão, em julho de 2004. Em nenhum dos saques Severino teria ido diretamente à agência.

"Não tenho conhecimento, não sei porque meu nome consta nessa relação. Nego ter recebido qualquer tipo de recursos oriundo das agências do senhor Marcos Valério, reitero que nunca estive em nenhuma agência do Banco Rural, nunca estive em reunião com o senhor Marcos Valério em nenhuma das suas empresas", afirmou.

O ex-presidente da Casa da Moeda – que pediu exoneração em maio deste ano, depois que seu nome apareceu ligado ao escândalo do ‘mensalão’ – negou, também, que qualquer despesa da campanha de Benedita tenha sido paga por Marcos Valério. "Todas as despesas foram pagas com dinheiro arrecadado no Rio de Janeiro mesmo, como aparece na nossa prestação de contas", disse.

Severino negou, também, que o contrato do publicitário Duda Mendonça para fazer a campanha de Benedita tenha sido pago por Marcos Valério, como o próprio publicitário afirmou em depoimento à CPI. "Não foi. O custo da campanha (R$ 1,2 milhão) foi pago com recursos arrecadados no Rio de Janeiro", garantiu.

Severino voltou a confirmar que se encontrou sete vezes com Marcos Valério. Três delas na Casa da Moeda, três no hotel Glória, no Rio de Janeiro, e a sétima no restaurante 14 Bis, do Aeroporto Santos Dumont, também no Rio. Afirmou que o publicitário o procurou uma vez para tentar vender uma campanha publicitária para a Casa da Moeda, o que ele não aceitou. Nessa primeira conversa, admitiu Severino, Valério perguntou se ele conhecia Delúbio Soares. Uma outra, para que conhecesse uma mostra preparada pela sua empresa de eventos, que ele pretendia que a Casa patrocinasse.

Nas três vezes no Hotel Glória, contou Severino, Valério queria dicas de como entrar nas campanhas para prefeito no Rio de Janeiro com sua agência. Os últimos encontros teriam sido por iniciativa de Severino, que pediu a Valério que o apresentasse para alguém da Brasil Telecom. "Eu confirmo. Queria que ele me apresentasse porque eu queria reativar a linha de produção de cartões telefônicos da Casa da Moeda. Também fiz contato com a Telemar", contou.

Os parlamentares, mais uma vez, saíram frustrados no final do depoimento. José Rocha (PFL-BA) chegou a pedir uma acareação entre Severino e os publicitários Duda Mendonça e Marcos Valério. "Alguém aqui está mentindo. Ou então os três", afirmou. "As evidências estão todas aí, mas ele continua negando tudo", reclamou Moroni Torgan (PFLCE).

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