Ex-funcionário diz que Rural enviou dinheiro ilegal

Belo Horizonte (AE) – O ex-funcionário do Banco Rural, Odilon Cândido Bacelar Neto, prestou depoimento hoje na Justiça federal, em Belo Horizonte, e afirmou que a direção da instituição financeira mineira foi a responsável pelo envio de pelo menos US$ 192 milhões para o exterior de forma ilegal por meio de contas CC-5. O vice-presidente do Rural, José Roberto Salgado, quatro executivos e um ex-diretor do banco foram denunciados recentemente pelo Ministério Público Federal (MPF) por gestão fraudulenta e formação de quadrilha.

Apontado como doleiro e identificado nas investigações dos procuradores como o "aliciador de laranjas", supostamente utilizados para o esquema de evasão de divisas, Bacelar Neto foi responsabilizado pelas operações ilícitas nos depoimentos prestados – a portas fechadas – anteriormente pelos dirigentes do Rural.

"Somente um banco pode fazer remessa para o exterior via contas CC-5, mais ninguém. Você poderá, fora disso, carregar uma mala de dinheiro. Como não se trata de carregar mala de dinheiro quem fez as remessas foi o banco", contestou o advogado Sidnei Saffe, que representa Bacelar Neto.

De acordo com o advogado, Bacelar Neto era apenas um "empregado da mesa de câmbio do banco", que "cumpriu as regras" da instituição.

Para o advogado dos executivos do Rural, Maurício Campos Júnior, a estratégia de Bacelar Neto é obter "uma delação premiada". "Ele era aqui um doleiro conhecido e prestava serviços a outros doleiros no Paraná".

O ex-operador de câmbio do Rural, acusado no processo pelo crime de formação de quadrilha, já foi condenado a cinco anos e nove meses de prisão por aliciamento de doleiros para o Banco Plus, do Paraguai "Laranjas" – Conforme denúncia do MPF, de abril de 1996 e janeiro de 2000 um total de US$ 4,8 bilhões foram enviados para o exterior pelo Rural por meio de contas de não-residentes. Os procuradores contabilizaram 378 "laranjas" arregimentados no período. As contas eram abertas para a finalidade ou eram utilizadas para as operações irregulares.

Saffe confirmou que Bacelar Neto arregimentava pessoas para que elas abrissem contas no banco, mas sustentou que "não eram laranjas".

De acordo com a acusação formal do MPF, o esquema de remessa ilegal consistia, basicamente, numa "grande teia" de movimentações financeiras, que tinham como destino três contas CC5: duas mantidas pelo IFE (Instituição Financeira Externa) Banco Rural Uruguay S/A em Belo Horizonte e em Foz do Iguaçu (PR) e outra no Rural International Bank (com sede nas Bahamas) de Foz do Iguaçu.

Bacelar Neto prestou depoimento durante cerca de três horas ao juiz da 4ª Vara Federal, Jorge Gustavo de Macedo Costa. Ele saiu sem dar declarações à imprensa. Antes dele, o juiz havia colhido o depoimento de Ronaldo dos Santos Corrêa, gerente de câmbio do Rural. Dos sete acusados, falta depor o também gerente Cláudio Eustáquio da Silva.

Os acusados estão sujeitos a penas de três a oito anos de reclusão e multa de até 18 mil salários-mínimo pelo crime de gestão fraudulenta de instituição financeira. E de um a três anos de prisão por formação de quadrilha.

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