Eunício: só convenção do PMDB pode romper com o governo

O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB), disse hoje, que só uma convenção nacional do PMDB poderia dizer que a base do partido é contra a participação no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, os governadores do PMDB e o presidente nacional da legenda deputado federal Michel Temer (SP), se reuniram em São Paulo, e decidiram que o partido terá uma relação de independência em relação ao governo. “Essa disputa sobre quem é majoritário ou minoritário, essa clareza nós só teríamos se fosse uma definição de convenção nacional. No mais, são posicionamentos, e muitos deles conhecidos há muito tempo, que respeitamos”, ponderou Eunício.

No esforço de superar a crise interna no partido, o ministro chamou hoje de manhã para o seu gabinete o líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR), com o pretexto de participar da posse de dois novos diretores da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Os dois estavam afastados. Ao discursar na cerimônia, o ministro ironizou notas publicadas nos jornais sinalizando sua saída do ministério, caso os defensores da proposta de “independência” do PMDB se tornassem majoritários. “Se eu tiver que cair, o Borba vai servir de colchão”, brincou o ministro, olhando para o líder. Em seguida, Eunício fez a defesa pública da política do governo Lula, inclusive a econômica, e apoiou a frase sempre repetida pelo presidente, de que não se pode governar para a próxima eleição. “Temos que governar, pelo menos, para a próxima geração”, comentou.

Durante o encontro, Borba permaneceu calado, desempenhando seu papel de levar ao governo a voz dos descontentes na bancada do PMDB. Juntos, porta-voz e bombeiro estiveram hoje no Palácio do Planalto por toda a tarde tentando encontrar uma saída para a crise, que começou com a declaração de obstrução de votações na Câmara após as eleições, até que o presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), desista de pôr em votação a emenda que permite a sua e a reeleição de José Sarney (PMDB-AP) no Senado.

De acordo com Eunício Oliveira, a obstrução do PMDB na Câmara, apoiada por José Borba, foi feita para fazer um “freio de arrumação” na bancada, onde muitos estavam magoados com o processo eleitoral. “Tem mágoas, ressentimentos, tem arestas a aparar, tem entendimentos a serem feitos, mas nada que o PMDB não supere”, disse Eunício em entrevista após a cerimônia de posse dos diretores da Anatel.

Em sua opinião, os que pregam o afastamento do governo, como o senador Pedro Simon (RS), e os governadores de Pernambuco Jarbas Vasconcelos, e do Distrito Federal, Joaquim Roriz, sempre foram contra a participação do partido no governo. “Não há novidade nisso”, avaliou.

Enquanto Eunício falava com a imprensa, Borba ligava para outros correligionários, entre eles o ministro da Previdência Social, Amir Lando. Cauteloso, manifestava apenas um tímido desejo de que as conversas com o governo prosperem e superem a crise. “A história mostra que é sempre importante que o amor vença e que a dor não tome conta”, filosofou o deputado.

Mas alguns peemedebistas que participam das negociações avaliam que nada está definido neste momento, embora haja disposição de ambos os lados para um entendimento. Grande parte da bancada estaria entendendo que não adianta o partido ocupar alguns cargos no governo se a legenda enfrenta dificuldades nas conversas com outros ministérios, principalmente na liberação de recursos para as emendas de parlamentares. Os que defendem essa avaliação acham que o governo perderia mais que o PMDB com o rompimento. Pelo quadro atual, existiria apoio para qualquer uma das decisões: o rompimento ou a continuidade no governo.

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