Estamos na moda

O mundo de hoje oferece poucas ilhas de paz e prosperidade, o que permite à América Latina, com todos os seus defeitos, apresentar-se como região da moda para investimentos. Não é outra coisa o que diz artigo do prestigioso jornal britânico Financial Times. O jornal londrino entrevistou especialistas do mercado que entendem que a saúde financeira do continente vai bem. Há crescimento econômico e o Brasil, com uma marca de mais de 5% sobre o PIB, apresenta-se como destino prioritário para os capitais estrangeiros.

Tal posição privilegiada foi conquistada, antes de mais nada, pela política conservadora, pejorativamente chamada de neoliberal, de Lula e seu ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Ela, produzindo superávites primários superiores até aos prometidos ao FMI e sem cogitar de moratórias ou ?defauts? – como aconteceu com a Argentina e os petistas defendiam quando na oposição -, acabou por reduzir a números satisfatórios o nível de risco atribuído ao Brasil.

A média de crescimento na América Latina no ano passado chegou a 5%. Houve um expressivo aumento nas exportações e o Brasil aparece como verdadeiro campeão. O nosso superávit na balança comercial já alcançou US$ 100 milhões em doze meses. Diz o artigo: ?Investidores famintos por lucros estão comprando os títulos da dívida expedidos pelos governos, principalmente do Brasil, em meio a um apetite por papéis de risco médio dos países em desenvolvimento?.

Mas os analistas que nos aplaudem sugerem cautela. Existem alguns senões a fazer sombra nessa ensolarada paisagem latino-americana. Um deles é o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, sempre um destino atraente para os capitais que hoje captamos. Há também o problema dos preços do petróleo e a situação interna do Brasil. Lá fora dizem que aos sucessos econômicos se opõem os ?papelões? no campo social. E, para que estes sejam solucionados, há crescente pressão política e da sociedade. Para fazê-lo, há que se reduzir o aperto até aqui feito para pagar os juros da dívida externa.

O artigo do Financial Times trata também das diferenças e preconceitos sociais no Brasil. Exemplifica com a situação de um porteiro de condomínio em Copacabana que se queixa do fato de que mora numa favela próxima às casas dos patrões ricos. E destes jamais recebeu qualquer gesto de consideração. Pelo contrário, jamais adentrou suas casas ou foi obsequiado com um simples copo d?água. Exagero, é claro.

Mas há de fato dois Brasis. O dos ricos, que são poucos e poderosos, e o dos pobres, que são muitos, vivem miseravelmente e ainda são desprezados pelas classes dominantes. Esta vergonhosa cultura dita o nosso desenvolvimento, que atrai investidores estrangeiros, mas está longe de solucionar os problemas dos brasileiros.

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