Empresários criticam possível legalização de “sacoleiros”

Depois da crise com a Bolívia sobre o fornecimento de gás, o compromisso assumido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governo do Paraguai de criação, num prazo de 30 dias, de um regime especial de tributação para os chamados "sacoleiros" abriu uma nova fonte de tensão. Durante debate na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados sobre o projeto, representantes da indústria de elétrica e eletrônica criticaram a política externa adotada pelo governo Lula de ajuda aos países vizinhos. Eles alertaram que a proposta de legalização dos "sacoleiros" não resolverá o problema e vai afugentar novos investimentos e empregos no Brasil.

"Essa benevolência com os países vizinhos tem nos custado muito alto ao Brasil", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Segundo ele, é possível encontrar Estados no Nordeste do Brasil que têm indicadores piores do que os paraguaios. Segundo ele, a Abinee é contrária à proposta porque o Mercosul já prevê um regime de origem que deveria ser respeitado em qualquer caso de redução ou isenção da imposto de importação. "Respeitamos o esforço diplomático do nosso governo. Mas esse esforço para solucionar o problema (dos sacoleiros) não pode ser feito em prejuízo da indústria e de todos que acreditaram e investiram no Brasil", disse Barbato.

A diretora de relações internacionais da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Maria Teresa Bustamante, disse que o novo regime vai servir apenas legalizar a contravenção. Ela também alertou para o problema de segurança dos produtos que entrarão no País.

O presidente do Instituto Brasileiro de Defesa da Competividade, Edson Luiz Vismona, ponderou que os produtos que serão alcançados com a proposta não são produzidos no Paraguai, mas em países como a China e Taiwan. "Não estamos lidando com sacoleiros, mas com pessoas utilizadas por organizações criminosas sofisticadas", advertiu Vismona.

O diretor do Departamento de Integração do Ministério de Relações Exteriores, embaixador Afonso Sena Cardoso, defendeu a ajuda ao Paraguai e disse que não se trata de um "reforço" do Mercosul, mas uma medida de combate a um problema pontual que cria tensão entre os dois países. O secretário da Receita Federal do Brasil, Jorge Rachid, comparou o Mercosul a um condomínio em que o Brasil representa cerca de 70%. "Nós temos que ajudar", disse.

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