Empresário confirma que organizou festas para Valério

Brasília (AE) – O empresário Ricardo Machado, ex-sócio da empresa de promoção de eventos MultiAction, confirmou hoje (8) à Polícia Federal que selecionou, contratou e treinou garotas de programa para animar pelo menos duas festas que o empresário Marcos Valério de Souza promoveu em Brasília. A PF desconfia que as festas, que teriam contado com a participação de parlamentares, podem ter sido promovidas para comemorar grandes contratos obtidos pelas empresas.

As garotas, conforme Machado, teriam sido encomendadas à cafetina Jeany Mary Corner, antiga conhecida dos círculos do poder em Brasília. Ela será chamada para dar o nome das mulheres e dos participantes das festas. Isso porque Machado deu os dados gerais dos dois eventos, mas negou-se a fornecer detalhes. Ambas as festas foram realizadas à noite, em 2003, no hotel Gran Bittar, no Setor Hoteleiro Norte.

Na primeira, em 9 de setembro, segundo o empresário, foram gastos R$ 8 mil e na segunda, R$ 10 mil com despesas de consumo nas quais foi embutido o pagamento das seis moças. Com as diárias do hotel, o valor total chega a cerca de R$ 30 mil. Foram reservadas mais de vinte suites na primeira e mais de 30 na segunda festa. Mas a comemoração de novembro, apesar de mais cara, acabou resultando em fracasso.

Machado não explicou à polícia por que a festa fracassou mas informações que chegaram à CPI dão conta que, naquele dia, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, avisado por um amigo, telefonou para um dos presentes e, aos gritos, mandou encerrar imediatamente a festa. A PF considerou o depoimento de Machado confuso.

Ele disse que apesar de ter organizado as duas festas, não participou delas e não conhecia nenhum dos presentes. Confirmou apenas que ambas foram realizadas por encomenda de Valério e que o pagamento das despesas foi feito. Machado também deu poucos detalhes da MultiAtion, da qual disse ter-se desligado no final de 2004.

Machado alegou ter entrado na empresa no ano 2000 apenas com trabalho e sem capital, mas saiu com R$ 230 mil devido à valorização das ações da empresa. A PF apurou que a MultiAction, definida juridicamente como empresa de entretenimento, eventos e marketing, pertence na verdade a Valério e Machado seria só um laranja. Rastreamento feito pelo Banco Central mostra que a empresa contabilizou seu maior faturamento, R$ 28 milhões, nos dois primeiros anos do governo Lula. No período anterior, de 2000 e 2002, os negócios teriam rendido apenas R$ 13 milhões. A MultiAction tem perfil nebuloso que a PF vai tentar desvendar.

A empresa estaria também no centro de um esquema que liga Valério ao núcleo duro do governo Lula. Um dos elos seria o ex-ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken. A PF já sabe que, nos dois dias das festas houve saques num montante de cerca de R$ 3,5 milhões nas contas de Valério, mas não crê que as festas fossem para distribuição de dinheiro do "mensalão". A hipótese mais provável é que as festas fossem para comemorar grandes contratos obtidos pelas empresas de Valério e quer aprofundar eventuais indícios de corrupção.

Voltar ao topo