Em cena, as condições de segurança

Um incidente, felizmente sem conseqüências, ao fim da apresentação de "Biobarbie", uma das cerca de 200 peças da programação do Festival de Teatro de Curitiba, chamou atenção para as condições de segurança nos 47 espaços que abrigam os espetáculos do evento. "Biobarbie" está sendo apresentada no Teatro Edson Bueno, no centro da cidade. Na sessão das 15 horas de ontem(22), os espectadores encontraram a porta de saída trancada – uma porta de metal, que separa o corredor da galeria das escadas de acesso ao saguão do teatro.

O mais grave: quem fechou, levou as chaves. Foi preciso esperar um chaveiro. A espera não durou nem dois minutos. Rapidamente a porta foi aberta por um profissional. Mas por que isso? "Para nossa segurança", argumentou um espectador. E se ocorresse um incêndio? "Aí seria mesmo terrível", retrucou, sorrindo, sem acreditar na possibilidade.

Um dos responsáveis pela administração da casa, Rafael Craveiro, informa que houve falha de comunicação. "Eu estava na técnica e não poderia cuidar da bilheteria. O certo seria trancar apenas a bilheteria, mas a pessoa fechou também a porta de saída."

Diretor artístico da casa, Edson Bueno reagiu de forma indignada ao ser informado do ocorrido. "O teatro tem duas portas e ambas têm de ficar abertas. Isso é absurdo, grave, e não vai se repetir." Tal incidente fez lembrar o difícil acesso, por meio de uma escada de madeira muito inclinada, à sala teatral do Espaço Cultural Saltimbancos, onde são exibidas peças como "O Urso" e "Pixei o Muro e Saí Correndo".

Num momento de pânico, dificilmente alguém chegaria com as pernas intactas ao fim da escada. Verificamos então que há uma outra saída, na lateral, de acesso bem mais fácil. Ou seja, talvez o que falte é aviso ao público. Até onde a reportagem apurou, depois do incidente, mesmo os teatros mais exíguos, oferecem as condições mínimas de segurança.

"O Corpo de Bombeiros aqui é superexigente e pela minha experiência posso dizer que ninguém consegue alvará sem cumprir suas determinações", diz Gisa Gutervil, diretora técnica do Espaço dos Satyros que, embora pareça claustrofóbico, além da porta principal, tem duas outras de emergência.

Sendo assim, em segurança, 22 pessoas se preparam para ver Cosmogonia, criação da Cia. dos Satyros, que deve chegar a São Paulo ainda neste semestre, uma das boas surpresas do Fringe. O espectador veste jaleco, luvas e máscaras cirúrgicas antes de penetrar num espaço onde a primeira visão é de um paciente, num UTI, em estado terminal. Em seguida, penetra-se num casulo feito com tecidos esticados, cujo formato remete a células nervosas. Ali dentro, acompanharemos os pensamentos de um homem (Elder Gatelly) em seus últimos 50 minutos de vida e seu embate com a moira e a musa (Pagu Leal).

Nessa encenação os recursos sonoros e cenográficos, ainda que muito bonitos, não chamam atenção para si, mas convergem de forma harmoniosa para que essa encenação intimista provoque no espectador uma profunda reflexão sobre as eternas perguntas sem resposta sobre a existência.

A mesma qualidade não esteve presente em "Biobarbie", espetáculo apresentado como dança e criado por Adega Olmos e Ana Lucia Guimarães, que estão em cena junto com Julia Abs. O objetivo é refletir "sobre o corpo feminino na sociedade de consumo".

Há algumas boas idéias, como a cena da mulher que sucumbe ao peso do espelho que carrega, mas falta precisão, coreografia bem marcada e criativa e, além disso, as cenas se alongam demais diluindo sentidos. A fragilidade se agrava quando entram as palavras, num texto que não ultrapassa o senso comum. Pena, porque no palco há três mulheres corajosas, dispostas a exibir sua nudez sem truques, algo que por si só possui grande força dramática, infelizmente mal aproveitada.

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