Eleições bipolarizadas

Os analistas, meios de comunicação e mesmo institutos de pesquisas até há pouco consideravam como principais candidatos à Presidência da República Luiz Ignácio Lula da Silva, Ciro Gomes, José Serra e Garotinho. Este último se sustentou no noticiário porque tem sido sempre o mais falante, o que não é de se estranhar, considerando-se que é um radialista. É candidato de um pequeno partido político, não conta com recursos materiais para a campanha nem cobertura suficiente fora do Rio de Janeiro, Estado do qual foi governador e onde sua mulher, Rosinha, disputa o cargo que era dele. Ciro ganhava as manchetes porque subia nas pesquisas e ultrapassou, em muito, José Serra, candidato situacionista. Esse quadro mudou nos últimos dias. Ciro, por diversas razões, a principal delas seu destempero verbal, despencou nas pesquisas, indo empatar, tecnicamente, com o último dos quatro presidenciáveis, Garotinho. Enquanto isso, Serra subiu vertiginosamente, ficando longe dos dois últimos contendores, embora também distante do primeiríssimo lugar, Lula.

A tendência, agora, é considerar-se que os candidatos com chances de ir para o segundo turno são apenas Lula e Serra. Aquele, com certeza. Este, muito provavelmente, pois duvida-se que Ciro consiga recuperar-se no curto espaço de tempo que resta para o pleito e em razão do peso da soma de erros que acumulou. Tudo indica que tal situação atende a um desejo do eleitorado, que consideraria muito mais cômodo escolher entre um candidato governista e outro de oposição, já que no ideário de Ciro e Garotinho, se é que se pode chamar de ideário o que de idéias e programas já divulgaram, poucas diferenças existem. Há uma tendência de se considerar que não fazem falta na disputa.

No PT, a briga entre Serra e Ciro, na qual aquele saiu-se vencedor, praticamente alijando o ex-governador do Ceará da disputa, foi considerada útil para Lula. Este consolidou-se no primeiro lugar e até há quem imagine a possibilidade, remota, de que venha a vencer ainda no primeiro turno.

Acreditando-se no mais provável, ou seja, um segundo turno entre Lula e Serra, a indagação é: para onde irão os atuais eleitores de Ciro e Garotinho?

Acreditamos que se dividirão, por oportunismo alguns, por ideologia outros e movidos pela propaganda a maioria. Sempre existirão aqueles que desejarão ficar com o que presumem será o vencedor, praticando o chamado voto útil. Há políticos que têm seus simpatizantes e rebanhos e que optarão movidos por interesse. Por ideologia, se situarão muitos, já que a disputa ocorrerá entre um candidato de esquerda mais acentuada e um socialdemocrata, que, mesmo estando longe do que se convencionou chamar de neoliberalismo do governo FHC, também está distante das posições, foram abraçadas por Lula e o PT.

Os que temiam um governo de esquerda mais radical, comandado por Lula, mesmo levando em conta seu discurso moderado nesta campanha, se acompanhavam Ciro ou Garotinho, agora se unirão a Serra. As esquerdas se unirão em torno de Lula e ainda aqueles que, não sendo dessa orientação, acreditam na atual política moderada do novo PT.

Assim, mesmo faltando tão pouco tempo para o pleito e sendo tão curto o espaço entre o primeiro e o segundo turnos, muita gente ainda vai mudar de posição, na medida em que ficar evidente a bipolarização e a disputa for resumida entre situação e oposição. Quem será o futuro presidente? Dá para adivinhar, mas ainda não dá para apostar.

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