Eleição de Palocci preocupa heterodoxos do PT

Ministros da ala ‘desenvolvimentista’ e dirigentes do PT já começam a se preocupar com o tamanho da influência do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva num provável segundo mandato. Não sem motivo: apesar das negativas oficiais, Palocci continua conversando com Lula. Embora indiciado pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, o ex-ministro deve ser um dos mais bem votados candidatos do PT a deputado federal. Com essa credencial, tende a puxar o coro contrário ao aumento dos gastos públicos, sob a alegação de que todo o esforço fiscal pode ir por água abaixo se o governo seguir esse caminho.

O retorno do ex-ministro da Fazenda à cena política causa receio a muitos de seus colegas. Em conversas reservadas, petistas avaliam que, mesmo acusado pela Polícia Federal e envolvido numa avalanche de denúncias, Palocci será uma espécie de ‘ministro sem pasta’ num novo mandato de Lula. Seus companheiros de partido notam que ele já começa a ‘fazer a cabeça’ do presidente para a necessidade de mais arrocho, passada a eleição.

Na prática, a plataforma do ex-homem forte do governo colide em muitos pontos com as idéias dos ministros Guido Mantega (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), entre outros. Palocci defende, por exemplo, uma nova reforma da Previdência.

Não é só: aplaude o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, quando ele diz que o crescimento da economia ‘depende’ da aceleração de reformas estruturais. ‘Não existe só taxa de juros e taxa de câmbio. Não se pode achar que está tudo resolvido e que é só tocar a vida’, constata Palocci, nas conversas com empresários.

Ex-ministro da Previdência, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirma que o governo não vê relevância em nova mudança nessa área. ‘Há um mito de que a reforma previdenciária não foi implementada, mas isso não é verdade. Tem gente que gostaria de privatizar a Previdência e congelar os gastos públicos, mas não somos adeptos dessa tese’, disse Berzoini, ao explicar a ausência do tema no programa de governo para o período 2007-2010.

A longevidade do arrocho e a autonomia operacional do BC são teses defendidas por Palocci que arrepiam os petistas. Na campanha para deputado, Palocci tem dito que, se for eleito, apresentará projeto de lei prevendo a manutenção da atual meta de superávit primário (4,25% do Produto Interno Bruto) por ‘pelo menos dez anos’.

‘Não quero criar atritos com o PT, mas acho que esse debate precisa ser feito no País’, defende o ex-ministro, que promete também mexer no ‘vespeiro’ da reforma tributária.

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