Símbolo

Venda de pinhão está liberada no Estado

Um dos alimentos mais tradicionais e símbolo do Paraná, o pinhão, já está com a sua venda liberada desde o dia 15 de abril. A semente, proveniente da araucária, é protegida pela portaria número 54/2008 do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que proíbe a sua extração e comercialização até data citada. O pinhão só pode ser recolhido se estiver no chão e não estiver verde.

Como forma de trabalhar de forma economicamente sustentável o pinhão, a Fundação de Pesquisas Florestais do Estado do Paraná (Fupef), entidade ligada à Universidade Federal do Paraná (UFPR), está incentivando os pequenos produtores e vendedores a fazer um uso inteligente do produto.

De acordo com o pesquisador e secretário geral da Fupef, Marcelo Lupas, o intuito é fazer com que as pessoas ligadas a essa atividade conservem a floresta de araucárias.

“A araucária era bem abundante no passado, ocupando cerca de 37% de todo o Paraná. Entretanto, restam apenas 9% desta mata. O que nos queremos fazer é conscientizar as pessoas sobre a importância desta árvore e também estimular que novas araucárias sejam plantadas, isto é, parte do que é colhido deve ser plantado a fim de assegurar a espécie e preservar este ecossistema”, avalia.

O pesquisador garante que a araucária dá mais lucro em pé do que derrubada, pois há outras maneiras de aproveitá-la, não restringindo apenas ao recolhimento do pinhão.

“Nós temos um plano estratégico que envolve novas técnicas para aproveitamento das fibras naturais da árvore como, por exemplo, a inserção deste material em móveis, que pode agregar um alto valor. É possível também utilizar suas folhas para peças de artesanato. Existem 50 protótipos cuja matéria-prima vem da araucária. Por conta disso, afirmamos que existe um grande potencial para geração de renda e, consequentemente, é economicamente viável preservá-la e explorá-la de forma racional”, salienta.

Mesmo lidando com o fato de que o projeto exige um longo prazo para render bons frutos, Lupas acredita que a ideia tem tudo para dar certo. “O projeto não é de imediato porque a araucária leva entre 15 a 20 anos para crescer e gerar o pinhão. Contudo, graças ao seu amplo leque de possibilidades de geração de renda, é uma aposta que vale a pena. Pode servir de estímulo para a agricultura familiar, onde uma área não agricultável poderia ser o espaço ideal para o plantio da araucária. Futuramente, nosso objetivo é de que as pessoas possam comprar um pinhão com certificado, garantindo uma qualidade a mais e ainda auxiliando a preservação da espécie”, disse.

Assopin confiante no aumento nas vendas

A Associação dos Pinhoeiros dos Municípios de Tijucas do Sul e São José dos Pinhais (Assopin) estão confiantes de que haja um aumento nas vendas da semente. A meta esperada é de vender pinhão até o dia 30 de agosto.

“A safra de 2009 não foi das melhores, pois tinha períodos em que fomos obrigados a parar de vender. Estamos na expectativa de que as coisas possam melhorar este ano”, conta o vendedor, produtor e secretário da associação, Luiz Roberto Aleixo.

Ciente de que há a necessidade de se fazer um extrativismo consciente, Aleixo revela que tanto ele quanto os membros da associação estão seguindo as determinações propostas pela Fundação de Pesquisas Florestais do Estado do Paraná (Fupef).

“Antigamente haviam muitas araucárias por aqui e hoje você pode perceber que diminuiu bastante o número delas. Pretendo deixar algo para meus filhos e netos e sei que é preciso preservar para que eles possam usufruir disto”.

Ele diz ainda que todos estão empolgados com essa parceria com a Fupef. “Com a orientação deles, vamos instalar uma câmara fria para conservar o pinhão, parque de gastronomia, onde as pessoas poderão encontrar pratos utilizando como barreado com farofa e pinhão, lasanha de pinhão, pirogue com aspargos e pinhão, pato recheado com pinhão, entre outros. Haverá ainda um viveiro com capacidade inicial para 300 mil mudas de araucária. Estamos empolgados em reverter a história do pinhão. Acredito que poderia haver incentivo do governo para a plantação da araucária”, afirma.

O professor do Departamento de Engenharia e Técnica Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dimas Agostinho da Silva, conta que essas atividades fazem parte da Fundação Araucária e que essa ideia vai alavancar a atividade.

“Essa oficina do pinhão tende a potencializar o polo turístico do lugar. Buscamos avançar nessa questão e mais para frente queremos fazer projetos de engenharia com a araucária. Tudo isso sem derrubar, criar uma renda, manter a tradição e recuperar a mata”, encerra. (FL)

Maior produção está na região central do Estado

O último levantamento realizado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), em 2008, mostra que o Estado colheu 4.227 toneladas de pinhão. Foi a maior colheita desde 2001.

O município com maior produto da semente é, coincidentemente, Pinhão, região central do Paraná, com 450 toneladas. Em seguida, vem Guarapuava, localizada na mesma região, com 210 toneladas.

Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), destacaram-se as cidades de Campo Largo, com 115 toneladas, e Almirante Tamandaré, com 26 toneladas. Segundo o engenheiro florestal do Deral, Alexandre França Tetto, o preço pago ao produtor vem se mantendo.

“Ano passado, o quilo era vendido em média a R$ 1,30. O Valor Bruto de Produção (VBP) foi de R$ 4,22 milhões. Ainda que não seja uma atividade principal, ela vem se mostrando como uma boa fonte de renda alternativa, uma vez que pode-se aproveitar muita coisa da araucária, inclusive a extração de biflavonoides (mesma substância encontrada no ginkgo biloba), utilizados para a indústria alimentícia e de cosmética. Por isso, a necessidade de se incentivar o plantio da araucária”, conta. (FL)