Varig ganha prazo para pagar a Infraero

A Infraero encaminhou ontem à Varig três interpelações extra-judiciais, relativas às empresas do grupo Varig, Varig Nordeste e Rio Sul. Os documentos dão cinco dias de prazo para que a companhia aérea volte a pagar a taxa pela utilização diária da infra-estutura aeroportuária.

De acordo com o presidente da Infraero, tenente-brigadeiro José Carlos Pereira, o prazo extra-judicial expira na próxima sexta-feira e caso a Varig não passe a pagar regularmente os valores cobrados, a única forma de continuar operando será mediante o pagamento antecipado e diário da tarifa de utilização aos aeroportos. No caso da Varig, o valor da taxa gira em torno de R$ 900 mil por dia.

O tenente-brigadeiro acredita que a Varig tem condições de fazer os pagamentos à Infraero, principalmente se buscar uma otimização em seus vôos e na forma de operar. ?Eu não vejo num horizonte de curto prazo a possibilidade de a Varig deixar de voar. Mesmo que eu tenha que aplicar uma medida dura de cobrança diária, eu garanto que eles têm condições de pagar?, avaliou o presidente da Infraero. Para Pereira, ajustes na programação de vôos da companhia seriam suficientes para manter a empresa em operação neste momento: ?Cancela alguns vôos, otimiza, e vai continuar voando?, afirmou.

A Varig já deve à Infraero R$135 milhões acumulados pelo não pagamento da taxa desde setembro do ano passado, quando uma liminar da Justiça do Rio de Janeiro permitiu que a Varig deixasse de pagar o encargo durante oito meses.

José Carlos Pereira afirmou que a empresa está aberta a negociar a dívida existente, mas não pode permitir que os valores devidos continuem aumentando. Ele chegou a admitir a ampliação do prazo de pagamento da dívida para contribuir com a recuperação da Varig. ?Num trabalho desse, todo mundo tem que ceder em alguma coisa, dentro da lei?, afirmou.

O presidente da Infraero salientou que uma extensão de prazos tem que ser negociada em nível de governo. ?A Infraero é uma empresa estatal. Nós vamos seguir a orientação governamental, dentro dos limites da lei. O presidente já falou isso e a ministra Dilma já deixou bem claro – faremos tudo o que for necessário, todas as engenharias econômicas, mantida a estrita exigência da lei?. O tenente-brigadeiro garantiu que qualquer negociação não será feita pela Infraero e sim em conjunto com os outros credores e representações envolvidas no plano de recuperação da Varig.

José Carlos Pereira ressaltou que houve uma correção de rumos na postura do governo em relação ao caso Varig. ?O governo está absolutamente convencido de que é preciso apoiar com mais vigor? a recuperação da companhia. Segundo ele, a partir da última quinta-feira ?os esforços que o governo está fazendo para encontrar uma solução para a crise da Varig caminharam muito?.

Pereira afirmou que está otimista e que uma boa solução será encontrada ?para a proteção dos empregos, dos trabalhadores e da bandeira da Varig, principalmente no exterior?. O presidente da Infraero destacou, no entanto, que não basta vontade política, é preciso encontrar meios de resolver a questão. ?O problema é como agir rigorosamente dentro da lei e encontrar saídas?, explicou.

Lula também admite ajuda

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou ontem pela primeira vez sobre a crise na Varig. Numa coletiva improvisada durante o Feirão da Casa Própria, Lula foi perguntado sobre que orientação política o governo daria para essa questão, já que a companhia aérea não vem conseguindo sequer pagar as taxas aeroportuárias e disse: ?Isso não é uma novidade. Há muito tempo que a Varig está em uma situação muito complicada. Tenho dito publicamente que o governo não vai colocar dinheiro público. O que nós podemos fazer é financiar a salvação da Varig desde que a empresa cumpra o seu papel. A Varig, como outras empresas do Brasil, viraram uma espécie de paixão nacional, mas nós não podemos tratar essas coisas com o coração, mas sim com racionalidade de uma empresa privada.?

A repercussão na Bolsa de Valores foi imediata. As ações preferenciais da empresa tiveram alta de mais de 50% e acumulam crescimento de mais de 80% na semana, graças aos indícios de que o governo está empenhado em buscar uma solução para a empresa.

Chama a atenção do mercado a mudança do tom do governo em relação à empresa. Se há bem pouco tempo, representantes do governo diziam que nada poderia ser feito pela empresa, agora o próprio presidente sinaliza boa vontade, ainda que ponderando a necessidade de uma solução de mercado.
?Em ano eleitoral, a gente não pode esquecer as pressões de mercado?, comentou um analista.

Voltar ao topo