UFPR implementa projeto para melhorar o morango

Saudável e delicioso. Estes são os melhores predicados para se atribuir ao morango, uma fruta de origem europeia rica em vitamina C. Ideal para ser consumido tanto in natura quanto em receitas de bolos, tortas, entre outros tipos de doces, o morango possui diversas propriedades medicinais e evita a fragilidade nos ossos e má formação na arcada dentária. Além disso, por possuir vitamina B5, o fruto evita problemas de pele, aparelho digestivo e sistema nervoso. É encontrado ainda o ferro, fundamental para o sangue.

Para que o consumidor paranaense e também de outros lugares continuem a se beneficiar de suas características e de um fruto cada vez mais livre de agentes químicos, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) está implantando o projeto de Produção Integrada do Morango. O programa faz parte também de um projeto nacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e está presente, além do Paraná, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Com a coordenação da professora e entomologista Maria Aparecida Cassilha Zawadneak e do professor e fitopatologista Atila Francisco Magar, ambos da UFPR, o principal foco do projeto da produção integrada é o de melhorar o padrão de qualidade do morango paranaense. A entomologista explica melhor do que se trata essa ideia.

“Implantamos esse trabalho no ano passado. Trata-se de algo multidisciplinar, pois envolve conceitos de entomologia, fitopatologia, fitotecnia, saúde ambiental, solos, nutrição das plantas e pós-colheitas. Estamos trabalhando junto aos produtores para que o morango tenha um melhor sabor e que o fruto fique livre de resíduos químicos, físicos e biológicos. Os produtores vão ganhar um selo de certificação que irá agregar um valor ao seu produto. Assim, ganham todos: o meio ambiente, que fica mais livre de agentes químicos, o produtor, que vai receber mais por isso e trabalhar em um ambiente mais saudável, e o consumidor, que vai apreciar um fruto mais saboroso”, afirma.

Zawadneak conta que dois cursos já foram ofertados aos produtores: o de capacitação para reconhecimento de pragas e o de manejo de doenças e controle biológico. Segundo a professora, os agricultores aprovaram a iniciativa e estão conhecendo ainda mais sobre a cultura. “As pragas mais comuns que atacam o morangueiro são o ácaro, o pulgão e a tripes. Elas reduzem a produção ao sugar a planta, que fica estressada e pode até morrer. O que acontece então é o fato de que muitos produtores saem aplicando veneno sem necessidade. Vem daí o estigma de ser uma fruta que é carregada no agrotóxico. Estamos ensinando-os sobre o controle biológico. Todas estas pragas têm predadores naturais, como o ácaro predador, a joaninha e fungos entomopatogênicos. Além de serem eficientes, os inimigos naturais não afetam em nada a planta e o fruto. Porém, com o uso do defensivo, eram os primeiros a morrer. Conscientizando-os e treinando-os para reconhecer os insetos, a redução no uso de agrotóxicos chega a 30%”, informa.

A professora confessa que, de início, os produtores ficaram um tanto quanto inseguros com essa medida. Entretanto, pelo fato do mercado consumidor estar cada vez mais exigente com a qualidade dos produtos, os agricultores então se viram “obrigados” a seguir as rígidas normas do programa, porém, ao perceberem os benefícios que estavam recebendo, acabaram abraçando o projeto. “Eles sabem que, caso queiram vender seus morangos para grandes redes, é preciso investir na qualidade. Alguns supermercados só procuram gente que vende o fruto com certificação.

Fazemos então com estas pessoas uma reeducaçã,o total para que elas tomem todos os devidos cuidados com a sua lavoura. Os produtores vêm seguindo a cartilha de normas e estão empolgados com os resultados iniciais”, avalia.

Paraná é o quarto na produção nacional

Um morangueiro produz normalmente em média 1,2 quilos do fruto.

O Estado do Paraná ocupa uma posição de destaque na produção nacional do morango. Atrás apenas dos estados das Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, o fruto foi responsável, em 2008, por quase 2% do Valor Bruto de Produção (VBP) paranaense, gerando R$ 847 milhões de um total de R$ 41,4 bilhões. De toda a fruticultura cultivada no Paraná, o morango correspondeu a 1,06% (quase 64 mil hectares) e a 7,77% de toda a renda da fruticultura.

A Região Metropolitana de Curitiba (RMC), em particular São José dos Pinhais, é responsável pela maior parte de produção: 39,7%. Destacam-se também as regiões de Jacarezinho (norte), com 25%, e de Ponta Grossa (Campos Gerais), com 6,9%.

Tem como característica o fato de ser uma atividade familiar. Ao todo, são 1,3 mil produtores paranaenses, que geram, aproximadamente, 12 mil postos de trabalho. As propriedades geralmente têm menos de um hectare, com tamanho médio de 0,39 hectare.

Segundo o engenheiro agrônomo e coordenador estadual de fruticultura João Carlos Zandoná desde 1999 a atividade vem crescendo no Estado, saltando de oito mil toneladas/ano para 16 mil toneladas/ano. O principal mercado do fruto paranaense continua sendo interno, mas o produto tem também uma boa aceitação nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Zandoná conta que não é fácil lidar com a cultura do morango, pois requer muito conhecimento e aplicação de tecnologias por parte do produtor. “A cultura impõe um domínio da tecnologia de produção, onde os avanços são cada vez mais contínuos. Ela não é indicada para o que chamamos de aventureiros, devido a toda a sua exigência e capricho. É preciso ser bem profissional para se firmar nesta atividade”, garante.

Um exemplo disso foi que a safra de 2009 (números não divulgados) não foi das melhores para os agricultores. “Devido ao excesso de umidade, houve uma queda de produção. Um morangueiro produz em média 1,2 quilos, todavia, acredito que em 2009 esse número não foi superior a 500 gramas. Isso gerou uma diminuição na produção e aumento no custo da cultura, o que acabou por inflacionar o seu preço”, informa.