Títulos da dívida interna preocupam o governo

Rio e Brasília (AG) – Desde a desvalorização do real, em 1999, a equipe econômica se desdobrou para ampliar de um para até três anos o período médio de vencimento dos títulos da dívida interna. Louvado até poucos meses atrás, o esforço tornou-se o calcanhar-de-aquiles da política econômica e, agora, tem obrigado o Banco Central (BC) a encurtar os prazos e dar garantias de liquidez a um mercado cada vez mais arredio. Diante disso, os economistas alertam para o risco de os prazos diminuírem a ponto de a rolagem da dívida interna tornar-se diária, ressuscitando o nada saudoso ?overnight?.

Se o mercado se recusa a aceitar a rolagem em prazos mais longos, o governo fica cada vez mais tentado a usar o overnight. Isso viabiliza a rolagem, mas é ruim porque o BC terá de convencer diariamente o mercado a comprar títulos públicos. A liquidez diária alimenta o risco de fuga de recursos para o dólar, por exemplo – analisa o economista Caio Prates, professor da UFRJ.
A recente redução no prazo de vencimento da dívida interna, que hoje beira 55% do PIB, é reflexo da instabilidade do mercado. Os investidores, subitamente, se deram conta de que o próximo governo não só não terá espaço para ampliar a dívida, mas ainda terá de evitar que ela se torne impagável a médio prazo. Para tentar acalmar o mercado, o BC está trocando títulos de longo prazo por papéis com vencimento mais curto. Só na semana passada, o BC antecipou R$ 16 bilhões em títulos que venciam em 2003 para 2002.
O coordenador do programa econômico do Partido dos Trabalhadores (PT), Guido Mantega, professor da FGV-SP, considera natural o encurtamento da dívida pública no período pré-eleitoral. Mas não acredita que o governo (atual nem o próximo) terá grande dificuldade na rolagem:
– Se o governo quiser, rola no overnight. É mentira dizer que vai haver inadimplência. O novo governo terá um pouco mais de dívida para pagar no início de 2003, mas à medida que a confiança for restaurada, os prazos voltarão a aumentar.
Segundo o economista Fernando de Holanda Barbosa, professor da FGV no Rio, encurtar os prazos da dívida é a forma menos custosa, para o governo, de lidar com a atual crise. Se insistisse em vender títulos de longo prazo, o governo teria de pagar juros altos ao mercado, exigindo um esforço fiscal ainda maior. Mas a solução pode se transformar num problema se essa redução de prazos não for temporária:
– Os papéis de curto prazo diminuem o serviço da dívida, já que são vendidos por taxas menores. Mas deixam o país vulnerável, porque criam restrições à política monetária. Em caso de turbulência, se o governo tiver que subir os juros básicos, essa alta é transferida imediatamente ao estoque da dívida – diz Barbosa.

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