Banco sem gente

Tecnologia cria modelo de agência só com eletrônicos e o gerente

A ideia não é nova, e aos poucos vem ganhando terreno e levantando intrigas. Com o argumento que a automação gera eficiência operacional, os bancos têm testado pelo país e também em Curitiba modelos de agências com menos funcionários, onde nem todos os serviços são oferecidos.

Informalmente conhecidas como “agências de negócios”, oferecem apenas os caixas eletrônicos e gerente da conta. A justificativa dos bancos é que são pontos voltados para aplicações financeiras. Em Curitiba, o pioneiro foi o HSBC, há um ano; Bradesco e Banco do Brasil também têm pontos desse formato; o Itaú fez uma tentativa, mas retrocedeu.

Sindicato

A grande preocupação do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região com a expansão desse modelo é com o aumento do desemprego e a falta de segurança. Isso porque nessas agências não há atendimento pessoal nos caixas, não aceita pagamentos nem movimenta dinheiro, o que dispensa cofre, porta-giratória e abastecimento por carro-forte (feito apenas para os caixas eletrônicos).

“Reduz-se o número de empregados, sobrecarregando-os. E a economia que o banco tem com essa redução lamentavelmente, nunca é repassada na diminuição de taxas e juros ao cliente. Sem contar na maior exposição do cliente e do funcionário a perigos”, aponta o presidente do sindicato, Elias Jordão.

O Itaú, que mantém agências de negócios fora de Curitiba, fazem parte da estratégia da entidade em oferecer modelos de atendimento de acordo com a necessidade do cliente e ressalta que não resulta na redução do quadro de funcionários.

Expansões regionais

Hoje, o Brasil tem 23 mil agências bancárias (4,5 mil no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), mas não há dados de quantas delas agências de negócio. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) não contabiliza esse modelo em suas estatísticas porque não as tem como formato distinto de ponto de atendimento.

Segundo um estudo recém-publicado pela entidade, nos grandes centros do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde o número de agências estabilizou-se nos últimos anos, estas tendem a ter um papel consultivo, o que justificaria a criação desse formato em que o cliente vá apenas para saber sobre onde e como aplicar suas finanças, enquanto nas regiões Norte e Nordeste, ainda há expansão no número de agências tradicionais.

Exclusão social

Um dos trunfos dos bancos para justificar as agências de negócios é que têm ampliado as formas de se relacionar com os clientes e de estes acessar suas contas bancárias a qualquer hora do dia, por caixas eletrônicos, internet ou smartphone.

O argumento desconsidera que boa parte da população ainda não tem acesso à internet ou a aparelhos celulares (53,5% dos brasileiros, segundo levantamento do IBGE em 2011) ou, mais sério, não sabem ler e escrever (o índice de analfabetismo no Brasil é de 9,6%; em Curitiba, 2,1%, conforme o Censo de 2010). “É uma situação de exclusão social. Na prática, percebemos que muita gente não tem acesso ao mundo digital e muitas, mesmo as que têm, ainda preferem o atendimento pessoal”, diz Elias Jordão.

Direitos

Os bancos não podem fechar em massa as agências convencionais. “Tem de manter uma opção, colocar uma agência de negócios, mas manter outra, com todos os serviços nas proximidades. Caso o atendimento fique precário, resultando em filas, o cliente pode reclamar”, destaca a coordenadora do Procon-PR, Claudia Silvano.