Salários disparam

Sobram vagas no setor da construção civil

Mão-de-obra no setor da construção civil virou artigo de luxo. Nas agências de empregos, sobram vagas, falta mão-de-obra qualificada. Nos canteiros de obras, é comum ver pedreiros, serventes, carpinteiros, ceramistas, trabalhando dez ou doze horas por dia para compensar a falta de trabalhadores. Os salários estão sobrevalorizados. Com tantas obras espalhadas País afora, a realidade do mercado de trabalho no setor não poderia ser outra.

“Chegamos no limite. A mão-de-obra disponível na construção civil está plenamente empregada”, sentenciou o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná, Hamilton Pinheiro Franck.

A entidade já preparou campanha na mídia para valorizar os profissionais da construção civil, enfatizando que hoje eles trabalham uniformizados e com equipamentos de segurança. A idéia é atrair maior número de interessados para a atividade. “É uma campanha local, mas que deve se transformar em nacional”, disse.

De janeiro a julho desse ano, 14.236 pessoas foram contratadas pelo setor no Paraná, um crescimento de 101% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Em julho, a construção civil foi a atividade econômica com maior crescimento nas contratações no Paraná, segundo dados divulgados semana passada pelo Ministério do Trabalho e Emprego: 2.722 pessoas, 110% mais do que em julho do ano passado.

Em todo o País, são 232 mil pessoas a mais nos canteiros de obras desde janeiro, crescimento de 99% na comparação com os sete primeiros meses do ano passado. Apesar disso, algumas construtoras estão enfrentando dificuldades para encontrar mão-de-obra qualificada.

Caso do engenheiro civil Jean Forneck, que tem uma pequena empresa especializada em obras hospitalares. “Há 90 dias anunciamos cinco vagas de servente e cinco de pedreiro no Sine (agência de empregos) de São José dos Pinhais. Só apareceram dois candidatos e sem qualificação”, contou. Há 15 anos no setor, Forneck conta que nunca viu faltar tanta mão-de-obra.

“Está faltando todo tipo de profissional: pedreiro, carpinteiro, eletricista, encanador. E como trabalhamos com obras hospitalares, é preciso ser qualificado, bem focado no segmento”, explicou.

Com duas obras em andamento – uma em São José dos Pinhais e outra em Araucária -, a solução, segundo o engenheiro, é garimpar trabalhadores em outras empresas com melhor proposta salarial ou pagar hora-extra. Nos dois casos, o custo do metro quadrado é elevado.

Também para atrair mão-de-obra e garantir a entrega na prazo, o engenheiro paga por produtividade. Para contornar o problema, acredita o engenheiro, a solução é que haja um plano de investimento para qualificar profissionais da área.

Bolsa Família

Para o presidente do Sinduscon-PR, Hamilton Franck, o projeto do governo federal em treinar beneficiários do Bolsa Família para a construção civil é a grande aposta para que, num futuro próximo, a situação não fique ainda pior.

“O setor já previa que poderia ocorrer falta de mão-de-obra e procurou se antecipar a esta questão. O governo federal nos escutou e encampou a idéia”, explicou. Só em Curitiba, a expectativa é angariar cerca de 13 mil pessoas.

Pelo Plano Setorial de Qualificação, lançado pelo Ministério do Trabalho, beneficiários do Bolsa Família que têm perfil para a construção civil serão recrutados para fazer parte do projeto. Serão 200 horas/aula de qualificação – 80 horas de aula teórica e 120 horas de aula prática.

“No período de aulas práticas, ele já estará contratado por uma empresa e não perde o benefício do Bolsa Família. Depois, vai poder optar por trabalhar com carteira assinada, ter férias, FGTS, INSS ou se prefere ,continuar recebendo a esmola do Bolsa-Família. A gente imagina que a dignidade vai prevalecer.”

O governo lançou, na semana passada, edital para a escolha das escolas que irão treinar os futuros profissionais. “Na maioria das capitais, imagino que será o Senai”, disse Franck.

O salário inicial será o piso da categoria para servente: R$ 600,00, vale-alimentação no valor de R$ 105,00 e, dependendo da empresa, assistência médica e odontológica.

“Esse é o salário de trainee. Para o profissional, sobe para R$ 840,00. Mas este é só o piso da categoria”, disse, lembrando que o salário médio dos “bons profissionais” ultrapassa R$ 1,6 mil. Já o salário de um mestre-de-obras pode chegar a R$ 3,5 mil ou R$ 4 mil. “O salário quem faz é o bom profissional”, arrematou.