Sobram vagas e falta pessoal qualificado em Cianorte

A indústria de confecções de Cianorte, no noroeste do Paraná, está passando por um momento de desafio. Tem não só que enfrentar concorrência de todos os lados, como da indústria chinesa, que produz em quantidade e a preços baixos, e de empresas de outros setores, que atraem boa parte dos profissionais, mas também da falta de qualificação da mão-de-obra local.

A necessidade principal é de costureiras – estima-se que a indústria local tenha cerca de 2 mil vagas à espera de quem as preencha. As soluções encontradas pelo empresariado da cidade envolvem iniciativas próprias de treinamento, parcerias com o sistema ‘S’ e – a mais drástica – a abertura de unidades em outros municípios.

Os empresários não negam que o problema existe. De acordo com José Augusto Plácido, presidente da Associação Comercial e Industrial de Cianorte, a mão-de-obra qualificada é uma das grandes necessidades da região. “A demanda é muito maior que a procura”, afirma. Para ele, há interesse das pessoas em trabalhar no setor, mas um dos maiores problemas é a falta de entidades que treinem os profissionais: “A força empresarial acaba assumindo para si a responsabilidade que seria de outros”. A formação básica de uma costureira, segundo Plácido, leva pouco mais de um ano.

Para o vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Cianorte (Sinveste), Alberto Nabhan – cuja família é uma das pioneiras do setor de confecções da cidade -, a situação é “gravíssima”. Mas, na opinião dele, o maior desafio é “convencer as meninas novas a serem costureiras”. Ele diz que a concorrência de outros setores, como o frigorífico – que chegou forte na região – atrapalha. “Eles estão remunerando melhor”, diz. O comércio do município, que também cresceu bastante, atrai boa parte de outras costureiras em potencial. Nabhan alerta que, se a indústria de confecções não “acenar com incentivos” às profissionais, em cerca de cinco anos as empresas de Cianorte estarão com graves problemas. Segundo ele, as indústrias de confecções da cidade poderiam contratar, na hora, cerca de 2 mil costureiras, caso houvesse interesse e qualificação.

A empresária Lúcia Figueiredo, presidente do Arranjo Produtivo Local (APL) de Cianorte, vai mais longe: “Aqui, só não trabalha quem não quer. Não tem nenhuma ocupação em que estão sobrando profissionais.

Até de recepcionistas estamos precisando”. Só na sua empresa, que tem cerca de 200 funcionários, ela diz que há pelo menos 20 vagas para costureiras – mas que é preciso capacitação. “Qualquer mão-de-obra capacitada está difícil de encontrar. Nós é que temos que ensinar”, informa. Ela lembra que o investimento para treinamento acaba sendo muito alto e que o setor “não tem tempo” de se dedicar a mais essa atividade.

Setor informal

Não é só contra a falta de interesse de pessoas e a pouca qualificação dos profissionais interessados que as indústrias de confecções de Cianorte têm que brigar. O setor informal acabou crescendo demais na cidade, e muitas costureiras preferem trabalhar nesse sistema. “São facções de fundo de quintal, com duas ou três costureiras em cada”, explica Nabhan.

Outro reflexo da falta de costureiras acaba acontecendo na carga horária de quem já está empregado. Os empresários afirmam que as horas extras são comuns, principalmente em períodos de pico, como os lançamentos de novas coleções. Mas o excesso de carga horária pode ser uma armadilha, lembra Nabhan, já que também há um limite para que o trabalho saia com qualidade. A carga hor,ária de uma costureira em Cianorte, hoje, já é de 44 horas semanais.

China

Apesar de ser uma questão mais fora do alcance dos empresários de Cianorte, a concorrência da indústria chinesa também preocupa o setor. Para Plácido, os acordos bilaterais com a China, que permitem a entrada de produtos do país asiático com baixa incidência de impostos, causam uma “deslealdade de preços muito grande”. Ele lembra do que aconteceu com o setor de brinquedos para argumentar a favor de mais protecionismo por parte do governo brasileiro. “Vale a pena para a geração de empregos.”

Desenvolvimento se espalha pela região

O crescimento quase desenfreado da indústria de confecções de Cianorte acabou levando o desenvolvimento a várias pequenas cidades da região. É também em busca de profissionais que muitas empresas do município acabaram instalando unidades nesses outros pólos. Para Alberto Nabhan, é mais fácil as empresas irem para outras cidades, onde as prefeituras dão incentivos e ajudam no treinamento, e os profissionais em potencial não sofrem o ‘assédio’ de outros setores da indústria ou do comércio. “Nessas cidades não tem o frango nem as lojas”, brinca.

Um bom exemplo é o caso de Admir Nabhan. Sócio de uma das maiores indústrias da cidade, a Be Eight – que presta serviços de private label para grandes redes como a Renner -, ele percebeu a oportunidade e instalou unidades em cidades próximas, como Jussara, Perobal e Nova Olímpia. A iniciativa parece estar dando retorno – tanto que, até o final de setembro, uma nova unidade deve ser inaugurada, em Cruzeiro do Oeste. (HM)

Voltar ao topo