Sistema de metas deverá ser mantido

Rio

  – Criador do sistema de metas para a inflação, o economista Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), não acredita que seu modelo esteja em xeque. Werlang, hoje diretor do Banco Itaú, garante que a deterioração nas expectativas de inflação do mercado ? variável-chave no modelo de metas ? é conseqüência das incertezas sobre qual será a equipe econômica do próximo governo. Em dois meses, as projeções para a inflação em 2003, coletadas pelo BC junto às instituições financeiras, saltaram de 5,2% para 9,81% ? uma alta de mais de quatro pontos percentuais. Na semana em que o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 22% ao ano, Werlang diz não temer a volta da inflação generalizada. E garante que não são verdadeiros os rumores de que poderia voltar ao governo ? ele tem sido apontado como um possível nome para a presidência do BC no governo Lula.

SISTEMA DE METAS: “O que está em jogo não é o modelo. O sistema de metas serve para balizar uma expectativa futura. Quando as expectativas são positivas, o custo de manter a inflação sob controle é relativamente baixo. O que acontece agora é que temos uma incerteza sobre a próxima administração. Primeiro porque não sabemos quem estará à frente do Banco Central. E depois porque não sabemos qual será a meta para a inflação. Por isso, hoje, as expectativas para 2003 já não são balizadas pelas metas deste governo.”

ALTA DOS JUROS: “O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central, que, na quarta-feira, decidiu subir os juros de 21% para 22% ao ano) agiu acertadamente, porque as expectativas estavam se deteriorando. Também não adiantava subir muito mais os juros já que esse problema só será resolvido quando se souber quem estará lá e qual será a meta.”

IMPACTOS DO DÓLAR: “O câmbio está recuando do pico, mas ainda está bastante desvalorizado (o real em relação ao dólar). Se houvesse o repasse para os preços de um dólar a R$ 4, poderíamos acreditar que, agora, a inflação cairia. Mas isso não aconteceu. Nos produtos que sofrem impacto do dólar, ainda deve ter gente aumentando os preços para esse nível de câmbio que está hoje. Assim como na subida do dólar, os impactos na inflação demoram: na queda também há uma defasagem.”

INFLAÇÃO GENERALIZADA: “Por enquanto, os preços que subiram são de produtos diretamente afetados pelo dólar. Mas não há nada, teoricamente, que impeça uma contaminação em outros produtos. Só que, observando os dados até agora, o que têm subido são tarifas (corrigidas pelo Índice Geral de Preços do Mercado, que é diretamente influenciado pelo câmbio) e alimentos. No caso dos alimentos, ou são os importados, como o trigo, ou os que podem ser exportados, como a soja. Há também o álcool, que serve como um substituto do açúcar. É óbvio que o que está segurando a inflação é a política monetária apertada, os juros altos. A demanda não está aquecida. Quem não precisa, não aumenta seus preços porque sabe que vai perder mercado.”

INDEXAÇÃO: “É prematuro dizer que há qualquer risco de indexação. Vários países do mundo têm inflação nesse patamar e não há indexação.”

PESO DOS JUROS: “Os juros têm impacto na dívida, mas podem baixar rapidamente no futuro se a próxima equipe for competente e adotar políticas responsáveis. Haveria alívio no câmbio e, com isso, espaço para a queda de juros. Se isso não acontecer, pode ser necessário aumentar o superávit fiscal primário (receitas menos despesas sem contar o pagamento de juros e correção monetária). No cenário atual, isso não é necessário. É claro que seria positivo se o próximo governo tivesse como meta, no médio prazo, fazer um superávit primário maior. Mas não precisa fazer imediatamente.”

ROLAGEM DA DÍVIDA: “O governo vem reduzindo o prazo de parte da dívida para um dia. Mas, diariamente, o Banco Central faz operações no mercado para recolher o excesso de dinheiro em circulação, rolando a dívida no ?over? (?overnight?, operações de um dia). Isso só pressionaria a inflação se, em vez de rolar a dívida no ?over?, os investidores preferissem comprar outros ativos, como imóveis ou ações. Mas isso não tem ocorrido. O governo tem conseguido recolher o excesso de dinheiro do mercado como, aliás, costumávamos fazer há alguns anos atrás. O Brasil já viveu durante muito tempo com a dívida rolada no ?over? e isso nunca foi um problema maior.”

PERSPECTIVAS: “O comportamento da inflação no ano que vem vai depender muito de qual será a equipe e de qual será a sua meta. Se a equipe for competente, a inflação pode ficar um pouco acima da meta atual, ou seja, perto dos 7%. Se não, a inflação será tanto maior quanto mais alta for a nova meta da próxima equipe.”

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