Segundo turno não vai reduzir as turbulências

O segundo turno das eleições não será suficiente para frear a instabilidade do mercado financeiro brasileiro. Segundo analistas, o dólar deve bater a casa de R$ 4 ainda neste mês, enquanto a Bolsa seguirá volátil até o final do ano. Apesar dos investidores já terem absorvido a possibilidade de vitória de Lula, que representaria o rompimento da política de juros altos e a tentativa de crescimento de empregos, não descartam José Serra, que é visto como uma solução menos traumática. Mesmo considerando remota a possibilidade de vitória do tucano, as Bolsas preferem trabalhar com a continuidade da política econômica.

O mercado calcula em 70% as chances de vitória do petista, com a transferência de votos de Garotinho e Ciro. “Dizem que o Lula não é tão danoso para o mercado de ações como poderia ter sido há oito anos. Ele está com idéia de geração de empregos e fará menos perseguição a bancos e investidores. Isso é bom para todos: a economia cresce e os lucros aumentam”, pondera Marcelo Martenetz, analista da SM Consultoria Econômica.

“O medo do mercado não é se o Lula vai ser presidente, mas o que vai fazer quando chegar lá”, ressalta. “Acredito que o mercado continue bastante volátil até o segundo turno, mesmo sabendo que a tendência do resultado final dificilmente mude”, concorda Ricardo Moraes Filho, diretor da Spirit Corretora de Valores. “O mercado financeiro já trabalha com a hipótese da vitória de Lula. A questão agora é saber se o PT vai saber administrar essa expectativa na campanha”, acentua. Ele lembra que os investidores estrangeiros ainda olham o petista com desconfiança em relação ao cumprimento de compromissos futuros.

A favor de Serra, poderia pesar a participação mais ativa do presidente FHC na reta final da disputa. Porém ambos os candidatos tem compromissos com os financiadores de campanha, não restando muita margem de manobra nem ao oposicionista. “Do ponto de vista prático, o PT não é melhor nem pior do que qualquer outro. É simplesmente mais um partido. No Rio Grande do Sul, levou oito anos para ser rejeitado pela população, que é o tempo médio de qualquer partido”, afirmou um analista a O Estado.

Investimentos

Por causa dos títulos cambiais vencendo no dia 17, a expectativa é que o dólar comercial chegue a R$ 4 até a metade do mês. Aos investidores, a recomendação é só comprar dólar para proteção (hedge). Quem tiver dólar, deve esperar para vender na segunda quinzena de outubro.

Para quem quer especular a longo prazo, o momento é propício à compra de ações, que atingiram o menor preço dos últimos dez anos. A recomendação é por papéis de empresas exportadoras e prestadoras de serviços de telecomunicações, energia elétrica e saneamento. “Se a economia crescer 6% em 2003, a Bolsa dobra de preço”, observa Martenetz.

Com previsões de inflação mais alta no começo de 2003, as corretoras recomendam investimentos em fundos indexados ao IGP-M, que nos últimos meses vêm rendendo mais que o dobro dos fundos DI. Como aplicação de curto prazo, sugere-se os fundos money market.

Independentemente de quem sair vitorioso no pleito de 27 de outubro, o cenário ainda será adverso para a economia brasileira em 2003, conforme os analistas. “O Brasil estará menos pressionado em relação aos compromissos externos das empresas, mas haverá escassez de crédito externo principalmente em virtude da economia americana estar desequilibrada. Com o cenário mundial adverso, o câmbio ficará pressionado entre R$ 3,60 e R$ 4”, projeta Moraes.

Mercado pede detalhes de programas econômicos

São Paulo

(AE) – Terminada a primeira fase das eleições, o mercado e a comunidade financeira internacional deverão pressionar mais para que os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) expliquem melhor os seus programas econômicos. A preocupação é especialmente maior com a oposição, disse Fábio Giambiagi, especialista em contas públicas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Giambiagi disse que o programa de Serra parece ser o menos confuso. “No segundo turno da campanha, os investidores vão exigir maiores definições da oposição, que até aqui mostrou um programa ambíguo”, afirmou o economista. Ele acredita que, agora, com apenas dois candidatos, a tendência é que as discussões sobre os programas econômicos de cada um se aprofundem ainda mais. “Acho que vai ser um processo saudável” disse.

Giambiagi lembrou, no entanto, que, diante das cobranças do mercado e dos investidores, o PT terá de provar como pretende levar adiante seus programas sociais depois de ter assumido compromissos de austeridade fiscal. “Pergunto de onde virão os recursos para as promessas sociais que o partido vem fazendo, se o candidato Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu a cumprir com as metas do Fundo Monetário Internacional”, disse Giambiagi. A mesma preocupação vem sendo transmitida pelos maiores investidores diretos no Brasil nos últimos três anos: as companhias espanholas. “A recuperação da confiança dos investidores, prejudicada nos últimos meses pela incerteza política e o contágio da Argentina, além da concentração de pagamentos de sua dívida, depende como serão enfrentados esses desafios”, informa hoje (7) o jornal econômico espanhol Cinco Dias na sua página internacional. Entre 1998 e 2001, as companhias espanholas investiram cerca de US$ 50 bilhões no Brasil.

Equipe Econômica

De acordo com o Ricardo Baumann, diretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, os olhares estarão agora direcionados à confirmação da nova equipe econômica no próximo governo. “Quando os nomes da equipe forem conhecidos, o componente de incertezas desaparecerá”, disse Baumann ao Cinco Dias. Para o jornal espanhol, um dos mais importantes do país na área econômica e financeira, “a indicação da nova equipe que conduzira a economia brasileira condicionará o termômetro do mercado”.

Para o jornal, “a instabilidade continuará a ameaçar os mercados brasileiros, seja qual for o resultado das eleições, já que as dúvidas persistem sobre a viabilidade das propostas econômicas e os rumos que tomará o próximo governo. “Para isso, se faz necessário indicar a nova equipe econômica.”

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