‘Se crise chegar ao Brasil, chega mais leve’, diz Lula

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta terça-feira (7), a uma platéia de cerca de três mil trabalhadores metalúrgicos em Angra dos Reis, que a crise econômica mundial não chega ao Brasil e afirmou que não haverá um pacote econômico no País. “Esta é a primeira vez que um governo não precisa explicar ao povo que a crise é internacional e não local. Todos estão cansados de ouvir isso. Mas muitos acham que é prepotência minha dizer que esta crise não chega ao Brasil. Digo e insisto: se chegar, chega mais leve, mesmo que haja quem esteja torcendo para ela chegar logo e causar estragos”, considerou o presidente, em cima de um palanque montado em meio ao estaleiro Brasfels, onde foi batizada a plataforma P-51 da Petrobras.

 

“Todo mundo sabe que o que está acontecendo se deve à especulação financeira que começou nos Estados Unidos. Eles brincaram com a economia mundial e, na hora que a porca entorta o rabo, sobra pra nós”, disse Lula, para lembrar em seguida que “desta vez será diferente”, porque o País fez como “na história da cigarra e da formiga: enquanto eles cantavam, a gente trabalhava”. A citação foi feita com relação ao fato de o Brasil ter se transformado em credor externo (com reservas superiores a sua dívida internacional).

 

 

 

“A crise americana é muito profunda. talvez seja a maior crise nos últimos 50 anos. Só teve igual a esta em 1929. E ela está chegando na Europa, porque os bancos europeus participaram do cassino imobiliário dos Estados Unidos”, disse o presidente, lembrando que nas crises do México, Ásia e Rússia, os “rombos” da economia mundial foram bem menores, em torno de US$ 50 bilhões, e o Brasil “quase quebra”. “Mas nesta, nos Estados Unidos, o rombo já é de US$ 1 trilhão só lá dentro. A mágoa deles e de alguns aqui dentro é de que o Brasil não quebrou. Eu não estou dizendo que não teremos dificuldades, mas que até agora estamos em pé”.

 

Pacote econômico

 

Lula foi bastante enfático ao afirmar que a atual crise econômica mundial não deverá motivar a formação de um pacote econômico no País. “Não haverá nenhum pacote econômico”, disse. Ele ainda reiterou que “todas as vezes em que houve um pacote econômico no Brasil, o trabalhador é que foi prejudicado.”

 

O presidente ressaltou que foram tomadas medidas econômicas de apoio aos bancos pequenos e aos exportadores. “Cada medida será tomada conforme ela for exigida no dia-a-dia”, disse. Lula acusou os Estados Unidos de terem feito a “farra do boi” com o dinheiro público. “O trabalhador sabe que se fizer a farra do boi com seu salário, quem vai pagar é o seu filho. E a gente não deve governar um país, mas cuidar de um país, como se cuida de uma família, sabendo que quem vai sofrer as conseqüências são os nossos filhos”, disse.

 

Ele destacou que espera que o “pacote americano ajude a resolver o problema deles”. “Mas pelo amor de Deus, agora que deixamos de comer o pão que o diabo amassou e começamos a comer um pãozinho com mortadela, eles que não venham querer se socializar com a gente. Este tipo de socialismo não queremos. Queremos socializar a bonança e não a miséria”.

 

Ainda falando sobre a crise, o presidente defendeu à platéia que é preciso que “ninguém se abale com a crise”. “É preciso que cada um de nós acredite que o País se encontrou com seu destino e não há nada no mundo que vai fazer com que reapareçam o desemprego, a miséria e o abandono. A crise gera especulação, gera desconfiança e depois cidadão fala que não vai gastar seu dinheiro e vai guardar. Peço a vocês que não façam isso, e continuem fazendo a mesma coisa que estavam fazendo.”

 

FMI

 

Lula também cobrou uma maior atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta crise. Ele lembrou que “quando era o Brasil ou a Argentina que apresentava uma crise, o FMI sempre dava palpite e ditava o que fazer ou não fazer”. “Cadê o FMI agora?”, indagou o presidente. Ainda para ele, tanto os Estados Unidos quanto a Europa “fingiram que não têm crise”. “Eles são iguais àquelas pessoas que não gostam de pobre. Vão para a reunião do G8, querem falar da Amazônia, mas não falam de crise”.