Safra recorde de soja não deve evitar prejuízos

Baseados no preço atual da saca da soja e no valor que esperam para a venda do grão, os produtores paranaenses acreditam que terão prejuízo com a safra de 2005, mesmo antecipando um recorde na colheita. "Em outros tempos, a notícia do recorde seria uma benção, mas este ano não estamos nem um pouco animados", conta Carlos Augusto Albuquerque, assessor da presidência da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep).

Em termos de quantidade e de qualidade, afirma o assessor, a safra será pródiga. E observando os números fornecidos pelo Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura (Deral), fica difícil entender a insatisfação dos agricultores: o órgão estima que, na próxima colheita, que vai de fevereiro a maio, a produção seja de 12,48 milhões de toneladas, 23% superior à anterior, que foi de 10,1 milhões de toneladas. A área plantada também teve um incremento de 3,7%, passando de 3.942.000 para 4.087.000 hectares. "O problema está no preço da saca", explica Albuquerque.

Na última sexta-feira, a cotação da saca da soja fechou em R$ 27,98. Isso representa R$ 14,56 a menos que a média de janeiro de 2004, que foi de R$ 42,54. Mesmo em 2003, o valor era muito mais alto: R$ 40,51. "Esperamos que o preço na época da venda esteja entre R$ 30 e R$ 32. Para alguns produtores, o custo de produção chegou a ser 20% mais alto", afirma Albuquerque.

Além da baixa cotação do dólar, Otmar Hubner, engenheiro agrônomo do Deral, aponta outros fatores para o baixo preço da saca. "Em 2004, os Estados Unidos tiveram colheita recorde. Com isso, o estoque mundial ficou muito alto." O estoque ao que o engenheiro se refere está atualmente em 61 milhões de toneladas, próximo ao que o Brasil colhe por ano. "Mesma na bolsa de Chicago o preço da saca está em baixa", diz. Para evitar prejuízos, ele explica que é provável que até mesmo os EUA reduzam a área de plantio em 2005.

Na colheita paranaense, que tem início no próximo mês, a ausência de seca, que prejudicou a safra de 2004, e o controle da ferrugem asiática são os indicadores do recorde. "Pode ser que algum fator altere nossas estimativas, mas muito dificilmente o Paraná colherá menos soja que no ano passado", afirma Hubner.

Saídas

Para o assessor da Faep, como o câmbio influencia diretamente o panorama da soja no País, é imperativo uma intervenção por parte do governo federal no preço da moeda norte-americana. "Quando foi iniciado o plantio, o custo do dólar era mais alto do que os produtores esperam obter quando forem vender o produto", lembra. "Se não houver uma ação por parte do governo, pode ter muito produtor falido depois dessa safra."

Outra saída apontada por Albuquerque para aumentar o lucro dos produtores em 2005 é reduzir o custo com o transporte da safra. "Para isso, esperamos medidas dos governos do Paraná e federal." Hubner diz que o Deral está aconselhando ao produtor fazer a venda escalonada da colheita. "Se vender tudo de uma vez, com certeza ele perde. É melhor esperar um aumento no valor da saca."

Ferrugem Asiática

O Paraná é o segundo produtor brasileiro de soja, mas, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é o que possui o maior número de focos de ferrugem asiática, um tipo de fungo que ataca a planta. "A Embrapa Soja está fazendo um trabalho preventivo muito eficiente, possibilitando um ótimo controle da doença", afirma Rafael Moreira Soares, pesquisar do órgão. Segundo ele, a ferrugem asiática dificilmente será um fator para perda de colheita em 2005.

"Porém a umidade causada pelas chuvas das últimas semanas preocupa, pois é um fator que contribui para a transmissão do fungo, que é feita pelo ar", diz. Ele alerta que, caso haja necessidade de mais de uma aplicação de fungicida, pode haver um aumento considerável no custo final da produção, principalmente nas colheitas tardias, que terão mais chance de serem afetadas pela ferrugem.

Investimento na safra abaixo da meta

Os investimentos no agronegócio para a safra 2004/2005 deverão ficar abaixo da meta estabelecida pelo governo para o financiamento do setor (que era de R$ 10,7 bilhões), apesar de o volume de recursos liberados para investimentos entre julho e dezembro do ano passado ter crescido 39% em comparação com o ano anterior. Segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, foram aplicados no período R$ 4,728 bilhões, contra R$ 3,401 bilhões no ano anterior.

Ele explicou que a meta foi estabelecida com base em uma estimativa de que a área plantada cresceria em cerca de 3 milhões de hectares, mas a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima agora que esse crescimento fique em torno de 1 milhão de hectares devido à queda nos preços agrícolas.

A expectativa, então, é a de que se repita o total de investimentos realizados na safra 2003/2004, quando foram liberados R$ 7,7 bilhões. Para aquele ano, a programação era de R$ 5,75 bilhões.

Custeio

Os programas de financiamento do custeio e comercialização da safra 2004/2005 deverão ter um acréscimo de R$ 2,8 bilhões no volume de recursos disponíveis com relação ao total estimado inicialmente pelo governo. Segundo o secretário, isso se deve ao aumento dos depósitos à vista captados pelos bancos, que são obrigados a destinar 25% desses depósitos ao financiamento do agronegócio.

A programação do governo previa a liberação de R$ 28,75 bilhões para a safra atual. Desse total, 77% já foram aplicados entre julho e dezembro do ano passado. O volume de recursos já aplicados no custeio e comercialização da safra supera em 29% os desembolsos realizados no mesmo período do ano anterior, segundo dados do Ministério da Agricultura.

Wedekin afirmou que se por um lado há um aumento no custo de produção entre 3% e 5%, por outro o governo está disponibilizando recursos para capital de giro que representam um acréscimo de 29% com relação ao ano anterior, isso sem considerar os R$ 2,8 bilhões que deverão extrapolar a meta.

Programa específico

Wedekin disse ainda que o governo lançará em maio um programa específico para financiamento da agroindústria. O novo programa será anunciado junto com o Plano Agrícola e Pecuário 2005/2006, a ser aprovado no mesmo mês pelo Conselho Monetário Naciona. Segundo ele, o governo discute a ampliação do sistema nacional de crédito rural, que atualmente só dispõe de linhas de investimento para agricultores e cooperativas.

"Sentimos falta de um arranjo, de uma articulação mais ampla para o financiamento à agroindústria brasileira. Estamos discutindo e pretendemos armar um grande quadro de financiamento à agroindústria brasileira, para que ela aumente a sua competitividade global", afirmou.

Produtores do PR solidários a Rodrigues

Os produtores rurais paranaenses, através de 150 representantes reunidos em Assembléia Geral da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), aprovaram por unanimidade, uma nota de respeito, confiança e solidariedade ao ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura.

No encontro em Curitiba, ontem, os produtores destacaram o "ato de coragem" do ministro ao demitir a diretoria da Embrapa "por não agir em sintonia com os interesses da agropecuária brasileira". Agindo assim, ele foi contra "setores interessados em radicalizar nas questões de pesquisa agropecuária, direcionando-a para um só segmento da agricultura".

Por causa desta coragem, afirmam os produtores, o ministro Rodrigues vem sendo alvo de ataques injustos. "Os setores radicais querem fazer prevalecer a falsa versão de que o Ministério da Agricultura quer abandonar a agricultura familiar em detrimento de outros segmentos, o que não é verdade. Os resultados das pesquisas devem servir a toda a agropecuária, mesmo que, por razões de justiça social, se dê uma atenção especial aos pequenos proprietários. O que não pode é discriminar a agropecuária que proporciona empregos, gera renda e divisas e é responsável pelo superávit brasileiro na balança comercial", afirma a nota de solidariedade.

A nota segue dizendo que "destruir um trabalho eficiente que tem colocado o Brasil na vanguarda da agropecuária mundial, como pretendem setores radicais, merece nosso repúdio, como merece nossos elogios e reconhecimento a medida corajosa de Vossa Excelência abortando essa tentativa anti patriótica, extremamente danosa ao nosso País, de radicalizar politicamente assuntos técnicos e científicos".

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