Sadia faz oferta pública pela Perdigão

Foto: Arquivo/O Estado

Nildemar Secches, presidente da Perdigão: preço baixo.

A Sadia S/A anunciou ontem, ao mercado, oferta pública voluntária para a aquisição da totalidade das ações de Perdigão S/A por R$ 3,7 bilhões. A oferta é válida até 24 de outubro de 2006 e a conclusão da operação está condicionada à aquisição de, no mínimo, 50% mais uma ação. Trata-se de uma operação inédita no mercado brasileiro. O maior objetivo é enfrentar gigantes do setor, como a americana Tyson Foods, que fatura US$ 26 bilhões e ameaça chegar ao Brasil.

A união de Sadia e Perdigão reduz o risco de desnacionalização de um setor em que o Brasil apresenta importantes vantagens competitivas, sendo um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo.

Caso seja concretizada, a união de Sadia e Perdigão nasce com receitas líquidas de R$ 12 bilhões, dos quais 50% provenientes do mercado externo. A nova corporação reunirá cerca de 81 mil funcionários, 16 mil produtores rurais integrados, estará entre as maiores exportadoras mundiais de proteína animal e a de quarta maior exportadora brasileira.

A parceria entre as duas empresas também vai assegurar capacidade de crescimento acelerado com solidez financeira, possibilitando, assim, criar maior valor para toda sua cadeia produtiva, gerar empregos e riqueza para o Brasil.

Condições da operação

A oferta pública voluntária está de acordo com as regras estabelecidas pelos acionistas de Perdigão na recente adesão da companhia ao Novo Mercado. O valor de R$ 27,88 ofertado para cada ação corresponde ao maior entre os critérios estabelecidos pelos acionistas de Perdigão em seu estatuto social. Ele inclui um prêmio de 35% sobre a média do preço dos papéis da empresa nos 30 dias anteriores ao anúncio da oferta pública voluntária.

Se efetivada a união, a Sadia pretende levar à apreciação dos acionistas das duas empresas a proposta de reestruturação societária, que resultará na incorporação, ao patrimônio da Sadia, da totalidade de ações de emissão da Perdigão que eventualmente não tenham sido alienadas durante a oferta pública.

A Sadia acredita que há alinhamento de cultura e valores entre as empresas. A união de forças de seus executivos e funcionários, o uso das melhores práticas gerenciais e a excelência nos padrões de governança corporativa permitiriam a criação de uma companhia brasileira de referência mundial no campo econômico e social.

Surpresa

O diretor de Relações Institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes, disse ontem que os diretores da empresa foram ?surpreendidos com a oferta?. Segundo ele, quando, no começo de março deste ano, a companhia aderiu às regras do Novo Mercado, os acionistas tinham consciência de que correriam esse risco. Isto é, que poderia surgir uma oferta pública para a compra das ações. Seis fundos de pensão, com destaque para a Previ, controlam 57% do capital da empresa. O restante está distribuído entre Weg (8%), Bradesco (6%) e demais acionistas.

Em 2005, a Perdigão teve um lucro líquido de US$ 118 milhões. No primeiro trimestre deste ano, o resultado alcançou R$ 10,4 milhões. A Sadia teve lucro líquido de R$ 67 milhões no mesmo período. No ano passado, o lucro líquido da empresa foi de US$ 205 milhões. ?Sabemos que a nossa oferta é muito ousada. Há tempos que queremos fazer uma empresa desse porte no Brasil?, diz o diretor de Relações com Investidores da Sadia, Luiz Murat. Ele diz que a oferta é ousada se comparada ao próprio valor de mercado da Sadia. Hoje, a Sadia vale o equivalente a R$ 3,9 bilhões na Bovespa, quase o mesmo volume de recursos que está sendo oferecido pela Perdigão.

Presidente da empresa diz que preço ofertado é muito baixo

São Paulo (AE) – O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, disse ontem que o preço ofertado pela Sadia para a compra da empresa é ?extremamente baixo? frente a diversos preços-alvo calculados por instituições financeiras. A média desses valores fica em aproximadamente R$ 35,00, contra os R$ 27,88 oferecidos. ?Sabemos que a ação estava subavaliada na Bolsa, mesmo assim o valor ficou um pouco aquém das expectativas?, disse em entrevista coletiva.

Secches afirmou que o departamento jurídico da Perdigão irá analisar agora a necessidade ou não de a empresa solicitar um laudo de avaliação a alguma instituição financeira para confrontar os valores. Em caso positivo, o conselho escolheria um banco para realizar o estudo, dentre três instituições sugeridas. Isso pode ocorrer já no próximo encontro do conselho, que acontece em 27 de julho. ?Temos menos de 10 horas de horário comercial dessa informação. Ainda não sabemos quais são as medidas.?

Segundo Secches, o acordo de voto entre os fundos de pensão, que respondem por 49,5% do capital da Perdigão, não impede a eventual transação. Pelo acordo, os fundos se comprometem a votar juntos nas assembléias por um prazo de cinco anos. O objetivo é garantir o quórum e evitar a paralisação das decisões da empresa.

A Fundação Real Grandeza, dos funcionários de Furnas, informou ontem que está inclinada a não aceitar a oferta da Sadia para comprar a Perdigão ?a este preço?, segundo o presidente do fundo, Sérgio Wilson Ferraz Fontes.

?Me parece que a impressão de que o preço é baixo foi unânime?, afirmou Ferraz Fontes, referindo-se aos demais fundos. Por se tratar de uma ?oferta hostil?, Fontes afirmou que a notícia foi uma surpresa tanto para a Real Grandeza quanto para outros fundos e para a diretoria da Perdigão.

Sadia avisou Perdigão da oferta antes de fazer o anúncio

O presidente do conselho de administração da Sadia, Walter Fontana, disse ontem que conversou na noite de domingo, antes do anúncio da oferta pública de aquisição de ações da Perdigão, com o presidente da empresa, Nildemar Secches, e com o presidente do conselho de administração, Eggon João da Silva, para comunicar a intenção da companhia. De acordo com Fontana, a conversa foi cordial, porém Secches disse que o assunto terá de ser tratado pelos acionistas.

O executivo da Sadia comentou que não é de hoje que as empresas nutrem o sonho da união, uma vez que essa possibilidade foi aventada várias vezes nos últimos anos. Fontana disse também que conversou com o diretor de Participações da Previ – principal acionista da Perdigão, com 15,3% dos papéis -, Renato Chaves; com o presidente da Petros, Wagner Pinheiro; e com representantes dos fundos de pensão Sistel e Valia. ?A reação foi de um acionista que recebe uma oferta?, brincou Fontana, sem detalhar a receptividade da proposta.

Fontana esclareceu que, se a aquisição for confirmada, a empresa pretende realizar uma alteração no endividamento, a fim de reduzi-lo.

Produtores europeus

A possibilidade de uma fusão entre a Sadia e a Perdigão faz os produtores de carne da Europa ficarem em estado de alerta. As duas empresas são vistas como importantes atores no mercado internacional de carnes e uma eventual união poderia ter um impacto entre os concorrentes em outras regiões.

A Associação de Processadores de Frango da Europa admitiu ter ficado surpreendida com a notícia e aponta que os produtores de países como França e Dinamarca estão conscientes de que terão de enfrentar uma concorrência cada vez maior de produtos brasileiros. Um exemplo claro é o mercado russo, onde europeus e americanos tradicionalmente dominavam. Nos últimos anos, porém, o Brasil vem ganhando espaço e ameaçando os lucros das empresas européias e americanas

?Temos de ficar atentos para o dia em que o Brasil consiga resolver todos seus problemas de competitividade, inclusive as questões fitossanitárias, e entre com força total nos mercados de carne do mundo?, afirmou o diretor de comunicações da Associação Dinamarquesa de Carnes, Karsten Anker Petersen.

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