Rússia suspende embargo à carne, mas só de frango

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que a decisão do governo da Rússia de suspender o embargo à carne brasileira de frango "embora elogiável, ainda não reflete o desejo do governo brasileiro". Na avaliação do ministro, não há razões técnicas para que seja mantido ainda o embargo às importações russas para as carnes bovina e suína. "Podíamos ter resolvido essas questões mais cedo", disse Rodrigues, referindo-se ao embargo principalmente à carne de frango, uma vez que a justificativa russa para o bloqueio foi o registro de focos de febre aftosa no País.

Ele informou, no entanto, que o governo voltará a prestar informações à Rússia, com base nas dúvidas levantadas sobre o processo industrial envolvendo a vacinação contra a febre aftosa, para tentar liberar as exportações de carne suína e bovina.

Os documentos com as informações solicitadas pelo governo russo deverão ser encaminhados no máximo até segunda-feira após o carnaval. Em seguida, uma missão técnica do Ministério da Agricultura seguirá para Moscou a fim de esclarecer eventuais dúvidas.

As exportações brasileiras de carne para a Rússia estavam suspensas desde setembro. Em novembro, o governo russo autorizou a importação de carne suína brasileira proveniente apenas do Estado de Santa Catarina. O governo não tem cálculos sobre os possíveis prejuízos do setor com o embargo russo.

Espanha

O ministro também confirmou que a Espanha suspendeu hoje oficialmente as restrições sanitárias que dificultavam a entrada de carne brasileira de frango no país, durante os últimos 12 meses.

Os espanhóis vinham barrando a entrada das cargas em que fossem encontrados "microorganismos contaminantes", como a bactéria "Lysteria monocitogenes".

O governo espanhol acolheu os argumentos apresentados pelo Brasil de que a eliminação completa do microorganismo não é possível na produção de frangos, mesmo com o uso das mais avançadas ferramentas de qualidade.

Rodrigues avaliou que a produção nacional de frangos irá responder rapidamente à abertura dos mercados da Rússia e da Espanha à carne de frango. Segundo ele, há uma expectativa do mercado de que as exportações brasileiras de carne de frango crescerão entre 10% e 15% neste ano.

No ano passado, as vendas de carne para a Rússia somaram US$ 867,878 milhões e o volume embarcado foi de 649.101 toneladas. O principal produto embarcado para o mercado russo foi a carne suína, com vendas de US$ 441,740 milhões e embarque de 276.227 toneladas.

CNA diz que "faltam razões técnicas"

A decisão da Rússia de retomar as compras de carne de frango do Brasil "não é suficiente para o setor produtivo", avaliou o assessor do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Paulo Mustefaga. "Não há razão técnica para que a Rússia mantenha o embargo à compra de carne bovina e suína", enfatizou.

A CNA voltou a cobrar do governo brasileiro postura firme em relação ao embargo russo. "Como o assunto não é técnico é preciso agir no campo diplomático", afirmou Mustefaga. Ele lembrou que o governo brasileiro forneceu todas as informações técnicas possíveis sobre os focos de aftosa notificados em 2004. "Os dois estados não têm autorização para exportar", comentou.

O Brasil, defendeu, só deve apoiar o ingresso da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) se Moscou suspender o embargo e aceitar rever o sistema de cotas que estabelece volumes para importação de carnes. O Brasil disputa com outros países uma cota pequena, o que, segundo a iniciativa privada, prejudica as vendas do País.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Suínos (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, disse que a decisão da Rússia é inconsistente do ponto vista técnico. A Rússia, segundo Camargo Neto, tem desrespeitado as regras da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) desde que o foco de aftosa foi descoberto no Amazonas, há cinco meses. O Estado do Amazonas não é exportador de carne e um foco lá não poderia ser usado para embargar as vendas de outros estados. "Nenhum outro país suspendeu as importações", lembrou Camargo Neto. "Como um país que não cumpre as regras de OIE pode querer entrar na OMC?", questionou o presidente da Abipecs.

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