Risco país deixa o mercado instável

São Paulo

(AG e agências) – A escalada do risco país e a rolagem parcial dos títulos públicos colocaram o mercado financeiro ontem em uma nova trajetória turbulenta. O dólar fechou o dia em alta de 2,3%, cotado a R$ 2,597 na venda. Esta é a cotação mais alta desde o dia 6 de novembro de 2001, quando a moeda fechou a R$ 2,61. O dólar começou a sofrer pressão logo na abertura do mercado, causada principalmente pelas tesourarias bancárias, que ignoraram as expectativas positivas para o dia. Entre elas estava o leilão de troca de contratos de swap cambial, a votação da CPMF no Senado e as notícias de algumas captações externas, como a do Unibanco, que tomou US$ 400 milhões.

O pregão viva-voz da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 0,53%, aos 12.592 pontos. Segundo operadores, o movimento do mercado reflete a tendência do C-Bond, que opera em declínio de 3,4%, e do risco-país, que supera a marca dos mil pontos – o maior desde 7 de novembro de 2001. O risco-país é medido pelo EMBI (Emerging Markets Bonds Index), índice do banco J.P. Morgan apurado com base nos títulos dos países emergentes. A taxa de risco é o principal termômetro para medir a desconfiança dos investidores estrangeiros com relação a um país. Segundo o Morgan, as condições sociais do país se deterioram de forma preocupante e nenhum dos candidatos a presidente, seja Lula, Serra ou qualquer outro, conseguirá atender as demandas sociais.

A antecipação de 30 de setembro para 31 de maio das regras de marcação a mercado, que impôs fortes perdas a fundos de investimento, também enerva o mercado. Segundo o diretor de tesouraria do West LB Banco Europeu, Flávio Farah, o fato de o Banco Central fazer dois leilões de títulos públicos ontem deixou o mercado mais apreensivo. Principalmente porque a falta de apetite por Letras do Tesouro Nacional (LTN, títulos prefixados) elevou substancialmente os prêmios solicitados pelo mercado. “Se os juros subirem muito, o Brasil terá mais dificuldade de rolar a dívida. E como não há demanda por LTN, o mercado teme que os prêmios fiquem muito altos”, explica Farah.

Para o presidente do BC, Armínio Fraga, a alta do dólar e do risco Brasil ontem é conseqüência direta do “momento de extremo pessimismo” do mercado financeiro. Para ele, a turbulência reflete a expectativa dos agentes financeiros de que as contas públicas vão ser deterioradas pelo sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. “Isso é o que o mercado está dizendo com a ansiedade e as turbulências das últimas semanas”, disse Fraga.

Ele afirmou que, do seu ponto de vista, as contas públicas serão preservadas. “Na minha visão, a base atual da economia é boa, transparente, responsável, razoável e não deveria ser objeto de desconfiança”, disse. Fraga disse que, em sua leitura, “o mercado teme que no futuro não haja continuidade de políticas de recuperação da credibilidade econômica do país”. Para o presidente do BC, há uma ansiedade política exagerada no comportamento do mercado, que se reflete em especial no aumento das taxas de juros de longo prazo.

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