Avaliação

Retorno dos investimentos da Copa de 2014 ainda é incerto

“Onde estão os economistas?” O questionamento em tom de provocação feito pelo consultor e economista do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR), Luiz Antonio Fayet, deu o tom do painel Infraestrutura e a Copa do Mundo de 2014, realizado nesta sexta-feira (29), durante o XVI Encontro de Economistas da Região Sul (XVI Enesul), em Curitiba. Números dissecando a evolução dos investimentos dos setores público e privados com foco no evento ainda carecem de uma ampla investigação. Em detrimento desse acompanhamento econômico, mesmo faltando menos de três anos para a Copa, a discussão entre os economistas permanece na esfera do montante a ser investido versus o retorno.

Fayet condena a aposta na Copa de 2014 como ferramenta para alavancar o turismo nacional, que atualmente tem um share de 0,5% no ranking mundial. “Copa do Mundo não é evento que resolva o problema de turismo do Brasil. O que resolve é parque temático e não um episódio de 45 dias. O que vale é turismo permanente, que garanta boas taxas de ocupação da rede hoteleira, o ano todo. O evento Copa do Mundo representa jogar dinheiro pelo ralo”, criticou.

O economista do Corecon do Rio Grande do Sul, Leandro Antônio de Lemos, que também integrou o painel, divergiu completamente de Fayet. Na avaliação de Lemos, a Copa oferece uma grande oportunidade no que tange a reconstrução da imagem do Brasil no exterior. “Nas décadas de 70 e 80, a Embratur promovia veladamente o turismo sexual com um material de divulgação que estampava nossas mulheres de forma degradante. Isso afugentou o turismo familiar e, ainda hoje, sofremos os reflexos disso com uma imagem extremamente negativa perante o mercado mundial”, atesta Lemos, que é autor do primeiro livro com abordagem econômica sobre Turismo, cujo título é “Turismo: que negócio é esse?”.

Para ele, a atividade no Brasil só começou a receber do governo Federal um correto tratamento há sete anos. “O turismo brasileiro começou de fato em 2004, com o objetivo de trazer a Copa e as Olimpíadas para cá. São eventos disputados em todo o mundo, devido aos efeitos multiplicadores na economia dos países que os recebem. Mesmo atingindo tais objetivos ainda estamos engatinhando”, reconhece. Para ele, dependendo de como for conduzida a organização da Copa, a participação do Brasil no mercado mundial de turismo pode triplicar (0,15%) até 2019. “Ainda é pouco se avaliarmos o potencial brasileiro, mas é muito significativo já que estamos falando da atividade econômica com a maior cadeia produtiva do planeta, na qual o gasto é pulverizado entre vários segmentos”, defende.

Quanto aos gastos excessivos e os riscos de desvios e mau aproveitamento dos recursos, Lemos reconhece o problema. “Só no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil gastou mais de US$ 82 bilhões na promoção do turismo no exterior. Vamos gastar mais alguns bilhões nos próximos 30 anos a fim de mudar nossa imagem, mas a Copa pode ajudar. Quanto a corrupção, infelizmente é um problema que atinge todos os segmentos da nossa economia e que não é a Copa que irá resolver”, lamenta.

Ainda dentro do retorno ou não da Copa de 2014 para a economia nacional, o economista do Corecon de Santa Catarina, João Randolfo Pontes, analisa que a demanda gerada por mais infraestrutura (portos, aeroportos e serviços) trará reflexos positivos de médio e longo prazo no país. “Os países que receberam esses eventos apresentaram melhoras significativas na capacidade de crescimento por conta da melhora na infraestrutura que acarreta em mais oportunidades de negócios”, complementa Pontes.

Falha na rede

Um dos pontos considerado crítico e que, por enquanto, vem sendo bastante negligenciado no que tange a preparação para a Copa é a tecnologia da informação, sobretudo, as estruturas de banda larga brasileira. “O Plano de Nacionalização da Banda Larga ainda não saiu do papel e isso é fundamental para a altíssima demanda por transmissão de dados que o evento exigirá”, alerta Lemos.