Reservas internacionais batem recorde

Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil

Mantega: o custo da administração também está caindo.

As reservas internacionais bateram recorde na sexta-feira, ao atingir a marca de US$ 74,954 bilhões. É o maior valor desde o início da série histórica do Banco Central (BC), iniciada em dezembro de 1970. ?Esse é um valor inédito e é preciso destacar que a dívida externa do governo federal soma hoje cerca de US$ 63 bilhões?, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O maior volume atingido até então, segundo ele, ocorreu em abril de 1998, quando as reservas alcançaram US$ 74,3 bilhões. ?A diferença é que, naquele momento, a dívida externa do governo era de US$ 76 bilhões e, ao final daquele ano, o nível das reservas havia caído substancialmente?.

O crescimento foi impulsionado pelas compras de dólares efetuadas pelo BC na terça-feira da semana passada e pelo ingresso dos US$ 300 milhões dos bônus em reais emitidos pelo Tesouro Nacional no mercado internacional. Só na sexta-feira, o nível das reservas subiu US$ 617 milhões. Questionado sobre o custo de administração que envolve esta forte recomposição de reservas, Mantega lembrou que, além de reduzir os níveis de risco do país, na medida que deixa as contas externas mais confortáveis, o próprio custo de administração também está caindo com o ciclo de desaperto monetário.

Para o economista da Consultoria Tendências, Guilherme Loureiro, o BC ainda tem espaço para continuar recompondo as reservas internacionais. ?É possível que as reservas cheguem ao fim do ano em cerca de US$ 80 bilhões?, disse. Ele ressaltou, entretanto, que o custo de se continuar comprando dólares em mercado para recompor as reservas está ficando cada vez mais alto. ?O mais aconselhável agora é o BC não comprar mais que o fluxo de moeda estrangeira que entrar no país. O ideal será comprar um valor igual ou um pouco abaixo do fluxo?, comentou.

O problema das compras de dólares, de acordo com Loureiro, é que o BC é obrigado a emitir títulos da dívida pública para anular o efeito da entrada de reais na economia provocada pela aquisição de moeda estrangeira. ?Isto acaba por prejudicar o lado fiscal e por anular o efeito positivo que o aumento das reservas tem sobre o risco país?, disse.

Além de bater recorde, as reservas também estão num valor maior do que a dívida externa do setor público brasileiro, atualmente em US$ 74,8 bilhões. ?O governo tem espaço hoje para liquidar toda a dívida externa do setor público?, comentou o economista da Tendências. Ele não acredita, entretanto, que isto será feito de uma forma abrupta. ?Por meio do programa de recompra da dívida externa, o Tesouro Nacional poderá reduzir a dívida de forma gradual?, comentou. Neste ano, o total de dívida já recomprada pelo Tesouro Nacional está em torno dos US$ 14 bilhões. ?Até o fim do ano, o total das recompras poderá chegar aos US$ 20 bilhões?, disse Loureiro.

Para 2007, o economista da Tendências acha que as reservas internacionais poderão crescer mais e terminar o ano em cerca de US$ 90 bilhões. ?É possível imaginar que as recompras de dívida externa no próximo ano fiquem em torno dos US$ 10 bilhões?, analisou. Loureiro destacou, ao mesmo tempo, que o BC não deve atuar no mercado com o intuito de afetar a taxa de câmbio. ?O que vai afetar a taxa de câmbio mesmo é a redução do diferencial de juros interno e externo e a própria reversão dos resultados da balança comercial?, comentou. Para ele, o crescimento das exportações tem ajudado a elevar a entrada de dinheiro estrangeiro no País e, conseqüentemente, a manter a taxa de câmbio valorizada.

Mantega acha possível zerar déficit nominal em 4 anos

São Paulo (AE) – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que é ?perfeitamente possível que as contas do setor público registrem um déficit nominal zero ao longo dos próximos quatro anos?. Ao atentar para o fato de que este é menos um objetivo em si do que conseqüência de uma política fiscal equilibrada, Mantega afirmou que tal resultado não demanda necessariamente em ajustes estruturais nas despesas correntes do setor público.

Ele lembrou que algumas destas mudanças, como as vinculações constitucionais da saúde e educação, são política e socialmente difíceis de implementar, e que o nível de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) é suficiente para reduzir a relação dívida PIB de maneira gradual. ?É perfeitamente possível zerar o déficit nominal nestes próximos anos com os juros caindo e o PIB e a arrecadação subindo?, argumentou o ministro. Isso não quer dizer, no entanto, que o governo não trabalhará seus próprios gastos.

Mantega explicou, por exemplo, que a proposta de um redutor para as despesas correntes como proporção do PIB, de 0,1% a 0,2%, poderá ser aplicada na prática já a partir de 2007 (esta proposta constava da LDO para o ano, que não foi aprovada). ?Vamos tentar aplicar este redutor na prática, mas é preciso ainda esperar o orçamento que virá do Congresso. Se não der para fazermos no ano que vem faremos em 2008, ao menos colocaremos na LDO?, explicou Mantega.

Sobre como cortar as despesas sem mudanças estruturais, o ministro explicou que alguns ajustes de eficiência no gasto público permitem redução. Ele citou como exemplo a informatização de toda a compra de medicamentos por parte do Ministério da Saúde, uma conta que soma hoje R$ 4 bilhões.

Questionado se esta fórmula de déficit nominal zero não acabaria consolidando uma carga tributária excessivamente alta no país, Mantega respondeu que é possível compatibilizar reduções discricionárias de tributos, especialmente para setores da produção, com o equilíbrio nas contas públicas.

No cenário traçado pelo ministro para que, com esta fórmula, o déficit nominal chegue a zero ao longo dos próximos quatro anos, o PIB cresceria a taxas anuais de 5% ou mais, as taxas de juros seguiriam em queda e o superávit primário do setor público se manteria em 4,25% do PIB. De acordo com Mantega, nestes 4,25% estão incluídos os gastos previstos para o Projeto Piloto de Investimentos (PPI).

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