Requião rejeita ?ninharia? de R$ 1,5 mi

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), anunciou ontem que vai rejeitar os recursos de R$ 1,5 milhão prometidos pelo Ministério da Agricultura para que o Estado desenvolva trabalhos de combate à febre aftosa, que atingiu rebanhos de Mato Grosso do Sul. ?Estamos abrindo mão dessa fabulosa quantia que o governo federal pretende nos dar?, ironizou. ?Não precisamos dessa ninharia, mas pode fazer falta para a fiscalização em Mato Grosso do Sul?.

Por isso, ele pediu que o secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, envie ofício ao ministério dispensando os recursos. ?Devem ser destinados ao estado de Mato Grosso do Sul para melhorar a verba ridícula que eles também estão recebendo?, afirmou. ?Somando duas verbas rigorosamente ridículas podemos ter alguma coisa significativa?. Requião disse que toda a estrutura do governo paranaense, incluindo equipamentos aéreos, estão à disposição do governador de Mato Grosso do Sul, José Orcílio, o Zeca do PT.

Requião ressaltou que o Paraná não recebeu ?nenhum tostão? do governo federal para a defesa sanitária animal nos últimos três anos. Ele creditou a ?culpa? pelo aparecimento da aftosa no estado vizinho ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que não teria liberado recursos para o Ministério da Agricultura. ?A ausência e a tibieza, a flebilidade do ministério e do ministro juntos, com essa visão neoliberal de não se incomodar com nada a não ser com o pagamento de juros, nos levou a esse desastre?, criticou.

Mas ele não deixou de cutucar também o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. ?Se o ministro tivesse a mesma garra na defesa da saúde animal que tem na defesa dos transgênicos realmente a gente não estaria enfrentando esse problema?, disse. ?Diante da não liberação (de recursos pelo Ministério da Fazenda), qualquer ministro com espinha dorsal de verdade teria se demitido para que nós não acabássemos num escândalo e num prejuízo brutal como esse que o Brasil está sofrendo?.

Radicalismo

O governador exigiu também medidas mais radicais na prevenção da febre aftosa no Paraná. A exigência foi feita durante reunião do secretariado. ?Apesar de toda a solidariedade que o Mato Grosso do Sul merece, precisamos proteger nosso Estado?, afirmou. Requião defendeu a radicalização das ações no combate à aftosa porque, segundo ele, a iniciativa visa uma fiscalização mais eficiente e solidariedade ao Mato Grosso do Sul. ?Não podemos correr o risco de ter incidência da doença no Paraná, após tantos anos de esforços. Uma nota fria não pode introduzir a febre  aftosa em nosso Estado?, comentou.

O diretor-geral da Secretaria da Agricultura, Newton Pohl Ribas, destacou as ações do governo do Estado na prevenção à doença. ?Interditamos as fronteiras. Barramos a entrada de todo tipo de animal proveniente do Mato Grosso do Sul e de outros estados, como Tocantins, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe?, disse. Ele lembrou que a proibição também vale para os demais estados que não estabeleceram restrição ao ingresso de animais do Mato Grosso do Sul.

Valor seria ampliado, informa ministério

Lyrian Saiki

O delegado do Ministério da Agricultura (Mapa) no Paraná, Valmir Kowaleski, disse ontem que não considerou a recusa do governador Roberto Requião como uma desfeita. ?Não vejo como desfeita, mas como uma decisão pessoal do governador em achar que o valor é insuficiente. É um ponto de vista particular?, disse.

Kowaleski afirmou que R$ 1,5 milhão é o recurso que o governo federal pode disponibilizar para o Paraná. ?Neste primeiro momento, é o recurso que o governo disponibilizou, através do Ministério da Fazenda ao Ministério da Agricultura. E dentro desta divisão é o (valor) que caberia ao Paraná?, disse. ?Seria o primeiro valor para este momento, mas poderia ser acionado maior quantia mais tarde?, ponderou. Segundo o delegado, os recursos só não foram liberados, anteriormente, pelo contingenciamento. O governo do Paraná gasta entre R$ 4 milhões e R$ 6 milhões por ano na defesa sanitária.

Sobre a possível falta que os recursos poderão fazer – já que o dinheiro seria aplicado na sanidade animal, tanto na prevenção contra a febre aftosa como na gripe aviária -, Kowaleski afirmou: ?O governador fez uma manifestação pública. Logicamente qualquer valor que se deixe de aplicar na sanidade animal neste momento é importante? .

Chiadeira

Para o assessor econômico da Federação de Agricultura no Estado do Paraná (Faep), Carlos Albuquerque, Requião fez bem em definir os recursos como uma ?ninharia?. ?O governo (federal) está colocando um dinheirinho em cima de um problema muito sério?, criticou, referindo-se ao setor que movimenta cerca de US$ 3 bilhões no Brasil. Apesar disso, Albuquerque defendeu que o governador tivesse ficado com a quantia oferecida pelo governo federal. ?Qualquer dinheiro sempre ajuda. A não ser que o Estado esteja com os cofres cheios e possa recusar assim?.

Segundo Albuquerque, o setor está temeroso com os focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. ?Estamos assustados. É preciso que a União, o Mato Grosso do Sul, descubram logo a origem do foco para debelar?, comentou. ?São várias hipóteses, e não se sabe no que acreditar. Se não soubermos a real origem do foco, não há como combater? .

Paraguai prepara representação

Brasília (AE) – O clima de tensão entre Brasil e Paraguai, provocado pelo surgimento do foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, promete esquentar amanhã, em Montevidéu, durante reunião do Conselho Veterinário Permanente do Mercosul. O Paraguai promete apresentar uma reclamação formal ao Brasil, exigindo provas sobre as suspeitas lançadas na semana passada pelo governador do Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT. Ele insinuou que a doença teria sido provocada por bovinos doentes vindos do país vizinho. Os paraguaios também acusam o Brasil de demorar a informá-lo sobre o surgimento do foco. A fronteira seca entre os dois países é de cerca de 600 quilômetros. ?Houve má-fé do governador (Zeca do PT), que lançou suspeitas sem confirmá-las?, afirmou o embaixador do Paraguai no Brasil, Luís Gonzalez Arias. O embaixador acrescentou que, se o Brasil levantou essa suspeita, ?terá de provar?.

Lula: ?Mundo tratou problema com mais seriedade que setores no Brasil?

Moscou (AE) – No dia em que apresentou ao presidente russo Vladimir Putin argumentos para que seja suspenso o embargo à carne produzida em Mato Grosso do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que ?o mundo tratou (o problema) com muito mais seriedade do que determinados setores dentro do próprio Brasil?. Lula não quis citar a quem se referia, mas insistiu que ?200 cabeças de gado não vão jogar por terra 200 milhões de cabeças de gado?. A doença, no entanto, já exigiu o sacrifício de mais de 600 animais em 4 fazendas de Mato Grosso do Sul.

Lula fez as declarações antes da reunião com Putin, no Palácio do Kremlin. Depois do encontro oficial, se disse satisfeito com o que ouviu do presidente russo. ?O Putin teve a compreensão do que aconteceu no Brasil com a febre aftosa e não vai levar isso como em outros tempos?, disse Lula. O presidente referia-se a um embargo ainda mais rigoroso determinado pelo governo russo em setembro do ano passado e que durou seis meses. Lula disse ainda que Putin foi ?generoso? ao tratar do tema. ?Ele foi compreensivo para entender que a Rússia vai continuar mantendo um grande comércio com o Brasil?, elogiou Lula.

A delegação ficou satisfeita ao ouvir do presidente russo que o governo chegou a cogitar suspender a compra de carnes de outros estados, mas depois decidiu restringir o embargo a Mato Grosso do Sul. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que juntou-se à comitiva brasileira na Rússia exclusivamente para tratar do embargo, disse que a reação dos russos ?foi muito positiva? e que tem ?esperança? de que o embargo seja suspenso em pouco tempo.

?Eles mesmos reafirmaram a importância de só terem embargado Mato Grosso do Sul, embora tivessem todo direito institucional de embargar todos os estados vizinhos (Mato Grosso Goiás, Minas, São Paulo e Paraná). Isso nos dá esperança de agilizarmos o mecanismo de suspensão do embargo?, declarou o ministro. Rodrigues minimizou o aparecimento de três focos, além do que já tinha sido descoberto no início da semana passada. ?É o mesmo foco, o que acontece é que a identificação, a sorologia, foi feita em dias diferentes. Mas é na mesma região sanitária?, afirmou. Segundo o ministro, as autoridades russas já sabiam da existência de novos casos antes mesmo de iniciarem a reunião de trabalho de hoje.

O presidente Lula fez questão de ressaltar as qualidades do gado brasileiro, dizendo que ?deve ser o mais saudável de todo rebanho bovino do mundo, porque nós criamos boi no pasto, sem ração animal?. Depois de dizer, ontem, que a febre aftosa estava debelada, Lula agora foi mais cauteloso. ?Vamos debelar esse foco. Agora é tocar o barco e vender nossa carne?, declarou.

Lula afirmou que sua preocupação agora é com a gripe do frango, que pode prejudicar as exportações brasileiras. ?Não chegou ainda ao Brasil, mas o país é um grande exportador de frango e nós temos interesse em continuar exportando cada vez mais?, disse.

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